terça-feira, 30 de novembro de 2010

A culpa é de São Pedro

Daniella Bittencourt Féder


Estudar quando faz calor é difícil. O calor provoca a queda da pressão e diminui a oxigenação do cérebro, o que causa uma sensação de cansaço, prejudica a concentração e, sejamos francos: só faz pensar em como seria bom não ter levantado da cama hoje. Isso pode explicar aquele aluno que sempre dorme durante as aulas ou aquele outro que, de tempos em tempos, solta um bocejo pegajoso e muito contagioso. “Fulano, vá passar uma água no rosto!” solicita o professor.

Na sexta-feira deu na Gazeta: o final de semana seria de muito sol e calor em Curitiba. E foi. Como aquele domingo estava quente; e como o dia estava lindo! Através dos livros e da janela aberta (que não trazia uma brisa sequer para quebrar o mormaço) eu via o sol, convidativo, que pairava no céu queimando a grama sem dó. Mas era domingo, e na segunda-feira começaria a semana de provas da faculdade. Eu, como universitária, segui o popular estereótipo de estudante e adiei os estudos até onde pude. Que preguiça...

O calor logo começou a fazer efeito – aqueles citados neste mesmo texto, ali no segundo parágrafo. Hmm... Será que posso trocar este livro por uma cervejinha gelada? Que vontade de cair na piscina! Ou quem sabe um bom banho de cachoeira... Foi o que sugeriu um grupo de amigos, via messenger. Estudar em frente ao computador em pleno império das redes sociais dá nisso: só distração. Pronto: a vontade de sair de casa e desfrutar de qualquer atividade ao ar livre foi despertada e não voltaria a dormir enquanto não se fizesse satisfeita.

-Dani, largue os estudos e vamos a uma cachoeira. Faz muito calor lá fora!

-Tenho que estudar... Qual cachoeira?

-Qualquer uma. Vamos, arrume-se!

-Não posso, não posso...

De repente, eram três horas da tarde. A internet, mais uma vez, conspirou contra o relógio e eu não havia estudado e tampouco ido à cachoeira qualquer. Numa última tentativa de me desviar dos estudos em prol de um contato intenso com a natureza, aquele grupo de amigos afinou o violão e criou a música “Dani, vamos para a cachoeira”. A letra, improvisada, dizia: Dani, vamos para a cachoeira / chega de estudar e de ler tanta besteira. Foi o hit do dia, segundo eles. E tenho que confessar que quase provocou o efeito desejado. Mas agora já era tarde para pegar o carro e campear a Estrada da Graciosa em busca da queda d’água que mais nos agradasse. Porém, o calor ainda predominava. E, com o horário de verão, o crepúsculo começaria a tomar posse do céu somente pelas sete ou oito horas da noite.

Dentro de casa, a atmosfera, abafada, juntou-se ao anseio pelo ar livre e me contaminou com uma claustrofobia não muito atípica de quem quer fugir dos estudos numa tarde ensolarada. Rapidamente, convoquei um pequeno pessoal, peguei todos em casa e partimos rumo a qualquer um dos muitos parques da cidade.

Tratei de desfrutar da vivacidade do restinho do domingo com o delirante amargor de uma cerveja geladíssima, que só faz sentido estar sobre a mesa do bar do Bosque do Papa se acompanhada daquela crocante porção de fritas temperada com cebolinha. Petisco tradicional da capital paranaense.

Os estudos? Ah, deixei pra “daqui a pouco”.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Obrigada, mas não estamos interessadas

Por Daniella Bittencourt Féder


Gosto de sentar bem acompanhada numa cadeira de bar e botar o papo em dia. Rir ao sabor de uma boa cerveja gelada. Conhecer pessoas e fazer novos amigos, se a situação o permitir. Sabe como?

Dia desses fui convidada para o aniversário de um amigo num bar onde uma banda tocava clássicos do hard rock e heavy metal. É o tipo de programa que me agrada; é o estilo de música que gosto. Arrastei uma amiga para me fazer companhia e fui – a comemoração do aniversário é o tipo de evento no qual os convidados devem ir acompanhados. Afinal, rodeado de amigos, o anfitrião nunca dedica todo o seu tempo somente a você.

Eu e Vanessa bebíamos e cantarolávamos, acompanhando a banda que tocava músicas às quais já éramos familiarizadas. Vez ou outra alguém parava para conversar conosco: o garçom, um amigo ou algum roqueiro querendo colocar pra fora uma conversa que a cerveja não permitia que ficasse inerte. Foi um desses que grudou na nossa mesa, puxando tantos papos que parecia que tinha outra intenção. Mas havia espaço na mesa para os três, e talvez ele só estivesse curtindo o show, como eu e minha amiga.

Não estava. Começou a incomodar. Nossas atenções, que estavam voltadas somente para a banda e para a cerveja, eram interrompidas por conversas vazias e xavecos furados. Vanessa e eu combinamos, com troca de olhares, de mudar de lugar. Trocamos nossa mesa, que ficava num mezanino com vista privilegiada para o palco e a pista de dança, pela própria pista. Foi uma boa mudança. O som estava ótimo! Divertíamo-nos muito, enquanto as horas da madrugada passavam rapidamente. Na medida em que a manhã se aproximava, o bar ia ficando vazio. E na medida em que o bar ia ficando vazio, nosso roqueiro inconveniente se aproximava de nós. Agarrei meu amigo aniversariante e pedi para que ficasse conosco, na tentativa de espantar o xavequeiro. Minha tática não estava funcionando: o dito cujo se apoiou na parede olhando diretamente para nós, à espera do momento de dar o bote. O aniversariante afastou-se de nós. Eu gritei “não!”, mas ele ia em direção ao elemento. Olhou nos olhos do rapaz e, em uma questão de segundos ele foi embora.

-O que você disse?
-Que vocês duas eram um casal e não estavam gostando de ser incomodadas por um homem. Ele agradeceu pelo aviso e foi pagar a conta.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Brasileiro ainda receia comprar pela internet

Por Daniella Bittencourt Féder


Os brasileiros ainda hesitam em fazer compras pela internet por falta de confiança. Foi o que mostrou uma pesquisa da empresa de segurança Site Blindado. A pesquisa foi feita com quatro mil internautas de idades entre 18 e 40 anos, e constatou que 30% deles evita o e-commerce.

Comprar pela internet é muito fácil. É cômodo. As lojas virtuais permitem que o cliente tenha acesso aos produtos sem sair de casa. A internet quebra a barreira da distância com alguns cliques do mouse. Não é nada complicado encomendar algum produto de Nova York ou do Japão.

O comércio virtual tem seus empecilhos. O comprador deve arcar com os custos do frete e ter confiança no fornecedor. Afinal, ele é o único responsável pela mercadoria enquanto ela não chega ao destino desejado. Artigos encomendados do exterior estão sujeitos a frete mais alto e taxa de importação.

Há lojas que, para entregar no Brasil, declaram menor valor na nota fiscal – ou pior, enviam uma mercadoria com a descrição de outra – para reduzir os custos com os impostos. Esta é uma prática ilegal, utilizada para diminuir o valor de venda do produto ou somente para aumentar o lucro do vendedor. A alfândega tem regras rígidas, por isso é preciso ter cuidado.

O site www.ReclameAqui.com.br é um espaço que os consumidores têm para se queixar de empresas. As reclamações mais comuns relacionadas a lojas virtuais são sobre encomendas que já foram pagas e não chegaram, extravios, atraso na entrega, dificuldade para trocar mercadorias com defeito ou que chegaram trocadas e mau relacionamento com os serviços de atendimento ao cliente.

Muitas lojas estão adaptando seus espaços de vendas também na web. Uma verdade é que todo comércio virtual deve ter um endereço físico. É somente assim que se consegue abrir uma empresa. Não há como criar e manter um cadastro nacional de pessoa jurídica (CNPJ) na Receita Federal sem um endereço comercial.

Antes de fazer sua compra pelo computador, é importante verificar o histórico da empresa e checar se ela realmente possui um escritório. Alguns e-commerces são certificados com selos eletrônicos de segurança, exibidos nos próprios sites.

O bacharel em Ciência da Computação Renato Murakami recomenda manter o antivírus ligado ao utilizar o internet banking, para evitar roubo de senhas e demais desconfortos. Também é interessante ir atrás de depoimentos de outras pessoas que usaram os serviços da loja escolhida. Segurança não existe sem confiança. A decisão de comprar pela internet é somente sua.

Não pise no meu piso!

Por Daniella Bittencourt Féder



Você sabia que jornalista ganha mal? No Paraná, o piso salarial dos jornalistas não tem reajuste real há 14 anos. E, como se não bastasse, o sindicato patronal da categoria quer beneficiá-los com extinção do adicional hora-extra, redução de 41% no piso (que cairia para R$ 1.200) para o interior do estado e o congelamento do anuênio. A desculpa é que “os negócios não andam bem”. Cabe essa justificativa a donos de empresas cujos faturamentos cresceram 33% no primeiro semestre deste ano?

O Sindicato dos Jornalistas tem uma pauta de reivindicações – que inclui vale-refeição e adicional noturno -, mas os patrões não mostram interesse por outra coisa que não seja a retirada de direitos dos próprios colaboradores. A profissão de jornalista vem sendo ridicularizada descaradamente pelos donos de veículos de comunicação.

Na quinta-feira, 29, o SindiJor convocou a classe a duas reuniões para discutir a situação. O desapontamento é unanimidade. Foi declarada assembleia permanente e levantada a possibilidade de greve, caso seja necessária uma medida extrema. Uma Comissão de Mobilização foi formada, e está trabalhando na criando ações de manifesto contra o que está acontecendo e na promoção da campanha “Não Pise no Meu Piso”.

A próxima reunião com os patrões está marcada para o dia 18, na sede da Associação das Empresas de Radiodifusão do Paraná (AERP), localizada na Rua Marechal Hermes, 1440, no bairro Ahú. Na ocasião, os jornalistas vão impor suas reivindicações, e convidam a todos para uma manifestação contra o seqüestro de direitos. Jornalistas e estudantes de jornalismo podem (devem!) comparecer.



Os fura-greves
Os jornalistas têm histórico de fura-greves. A última grande greve que aconteceu no setor foi no início dos anos 80. Porém, quando todos os jornalistas que trabalhavam em redações estavam paralisados, assessorias de imprensa enviavam material para encher as páginas dos jornais. Caso haja outra greve, não é improvável que isto aconteça. Hoje em dia, com as facilidades da internet, é muito fácil e rápido fechar jornais somente com matérias recebidas de assessorias de imprensa e agências de notícias – inclusive internacionais.



Mobilizan
“Em Curitiba, Foz e Ponta Grossa, começou na assembleia desta quinta-feira a distribuição do Mobilizan – o remédio que faltava para que os jornalistas acordem da letargia que os domina há anos e reivindiquem com ânimo seus direitos. Produzido pelos laboratórios unidos Sindijor-PR/Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná, o Mobilizan é um fármaco tarja preta sem contra-indicação, que deve ser usado em casos de tratamento desigual, ataque aos direitos estabelecidos; desvalorização da profissão aguda; defasagem salarial crônica; excesso de trabalho; e outras enfermidades sensíveis aos componentes da fórmula” do blog acordajornalista.blogspot.com.

O jornalista ou estudante de jornalismo que quiser iniciar o tratamento com o Mobilizan pode buscar o seu na sede do Sindicato dos Jornalistas, que fica no centro, na Rua José Loureiro, 211 – ao lado da agência da Caixa Econômica Federal.



Twitter
Muito provavelmente, os meios de comunicação comerciais não vão publicar conteúdo comentando sobre o desrespeito aos jornalistas. Como forma de divulgação da campanha Não Pise no Meu Piso, no Twitter foi criada a hashtag #grevedosjornalistas. O banner está disponibilizado no link twitpic.com/2u2d7o, e quem estiver disposto a aderir à empreitada pode utilizar como foto das redes sociais.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A geladeira da nonna

Por Daniella Bittencourt Féder


A primeira coisa que se vê ao entrar na cozinha são os bilhetes de parente e amigos colados com fita crepe na lateral da geladeira. O recado mais antigo que pude ler leva a data de 1998; mas há um outro que está lá há muito mais, com a escrita já apagada pela ação do tempo. Dos vinte e três ímãs grudados na porta dela, dez são de pizzarias ou casas de massas.

O refrigerador Prosdócimo foi presente do pai de Rose Marie Sampaio Féder, 74, a ela e o marido, João Féder, 80. Rose Marie é descendente de italianos e, João, de libaneses. Para os netos (é o meu caso), eles são somente nonna e nonno.

Rose Marie recebeu o mesmo nome do filme de 1936, estrelado por Nelson Eddy e Jeannette MacDonald. O filme também foi lançado no ano de nascimento da minha Rose Marie. A mãe assistiu, gostou e deu o nome à filha. Mesmo sendo neta, nonna só me contou isso quando eu estava colhendo informações para esta matéria.

João Féder – o sobrenome original, em libanês, é “Fadda” – é um consagrado jornalista. Teve participação importante na história do jornalismo paranaense. Criou jornais e emissoras de rádio e tevê.

O interior da Prosdócimo abriga a dieta do casal: frutas, verduras, iogurtes, sucos, pães – dos integrais ao sírio – e uma pequena variedade de queijos franceses. Rose Marie não descuida. Todas as noites põe à mesa um farto lanche no qual não podem faltar estes ingredientes – e em especial as frutas. A quantidade de Yakults salta à vista, mas tem explicação: o marido toma um por dia.

Eles estão de mudança, mas não pensam em trocar de geladeira. “Ela deve ter uns trinta e cinco anos, e só falhou uma vez”. A senhora conta que a dita cuja resolveu não funcionar justamente em um almoço no qual o casal recebia bons convidados. Era costume: “o jantar de Natal era servido na casa do Paulo [Pimentel], e o almoço do dia primeiro era sempre na nossa”. A sorte foi que a geladeira antiga ainda habitava a casa.

O vizinho da Prosdócimo é também presente de um familiar. Mas este, de um tio: Um freezer Electrolux, datado da época em que freezers eram uma curiosa novidade no Brasil. Rose conta que ele fez sucesso com as visitas quando chegou em casa.Tamanho era o abre-fecha das portas do eletrodoméstico que os alimentos mal se congelavam. Isso justifica o adesivo colado na porta, com o pedido “por favor, não abra”.



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A culpa é do divórcio

Por Daniella Bittencourt Féder



Qual é o momento para dar fim a um casamento? Foi refletindo sobre o divórcio de seus pais que o americano Noah Baumbauch escreveu e dirigiu seu quarto filme, A Lula e a Baleia (The Squid and the Whale) – lançado em 2005 -, criando um misto de ficção e crítica à própria realidade.

Na Nova York de 1986, Walt (Jessie Eisenberg), 16 anos e Frank (Owen Kline), 12, são filhos de uma tradicional família americana. Quando Bernard (Jeff Daniels), um escritor que não aceita a evasão do sucesso e Joan (Laura Linelly), escritora que está começando a ser reconhecida, decidem-se pela separação, seus dois filhos desnorteiam-se e passam a participar de uma disputa entre os pais, que envolve as glórias das carreiras profissionais dos pais e a guarda dos dois filhos.


Publiquei este release em maio de 2009 no portal E-Vodka. Estou republicando aqui incitada pela exibição do filme (com áudio original, em inglês, e legendas em português) no canal AXN. Vale a pena - conflitos familiares sempre valem a pena!

sábado, 4 de setembro de 2010

Barbeador elétrico é pura falta de personalidade

Por Daniella Bittencourt Féder


Ele é barbeiro desde cedo, tem a profissão como prioridade, e não hesita em mostrar aos clientes que, no que depender dele, a atividade é tradicional e única o suficiente para não acabar.


Ela passa quase despercebida pela movimentada Rua Presidente Carlos Cavalcanti, no bairro São Francisco. Não fosse a placa - luminosa, à noite -, que já se denuncia bem vivida, Curitiba esconderia bem a tradicional e popular Barbearia Oásis. Um cubículo quarentão (com 46 anos de idade, para curiosidade da precisão) que é ponto de encontro de barbudos e cabeludos, carecas que querem bem tratar os poucos fios de cabelo que lhes restam, amantes do futebol e homens de todo o tipo. São muitos os clientes de Silvino Tafner, dono e único barbeiro do pequeno estabelecimento. Porém, com a memória apurada, ele faz questão de conhecer todos. Mesmo eu, a moça que sou, tenho o prazer de ser recebida com muito carisma e simpatia quando acompanho o avô, pai, irmão ou namorado – que vem da cidade de São Paulo somente para se render à arte quase esquecida das mãos do barbeiro. Ele fala baixinho, e diz que é tímido. Mas tem a freguesia com muita amizade.

Seu Silvino, como é conhecido, é neto de italianos, e explica que Tafner é sobrenome de origem germânica. Uma confusão da colonização: parece que os alemães eram maioria populacional em certa região da Itália. Ele nasceu em Santa Catarina, onde trabalhou seus dois primeiros anos na arte, quando ainda não era quase esquecida. “Sou barbeiro há 48 anos; 46 em Curitiba e 16 neste endereço. Sou barbeiro [frisa, orgulhoso], não sou como os cabeleireiros destes salões de hoje”. A profissão é mesmo uma paixão, trabalhada com muita seriedade, técnica e perfeccionismo pelas mãos dele, que abrem as portas da Barbearia Oásis de segunda a segunda. Brinca: “fico aqui até de madrugada, se for preciso”. Ora essa, o trabalho é absolutamente necessário. Quem mais pagaria as contas e a faculdade do filho? Quando questionado sobre a situação financeira, ele novamente descontrai: diz que já é rico, e apenas falta tempo para gastar todo o dinheiro. Ah, aos domingos, meu personagem fecha o negócio cedo. Gosta de passar o dia na praia, num pesque-pague... E o futebol é sagrado.

Vez ou outra, entre este corte e aquele, algum cliente faz o serviço delivery. Se você por acaso estiver indo àquele restaurante, anote o pedido: “Por favor, peça à cozinheira para que me prepare um frango assado. Ela sabe como eu gosto”. Mesmo no sábado, quando a barbearia recebe mais barbas e cabelos do que comporta, o local vira ponto de encontro. Tem gente que faz uma visita somente para bater um papo ou discutir sobre algum assunto do jornal de hoje, enquanto o lê ali mesmo – como anda violenta essa cidade! Assim que começa a anoitecer, meu barbeiro fecha as portas de vidro. Mas é somente por segurança; o trabalho não para antes das nove. Religiosamente.

As cadeiras são duas relíquias, antigas e muito preservadas. São de quando ferro maciço era moldado e desenhado à mão – elas ilustram essa época. Foram garimpadas em São Paulo e trazidas com muito cuidado para cá. Alguma delas deve estar fazendo 100 anos agora, em 2010. Acho que a da direita, a do fundinho, é a mais confortável para trabalhar. Guardo a sensação de que a outra não é a preferida, mas é só uma impressão.


Ora essa, o trabalho é absolutamente necessário.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Adivinhe quem é

Por Daniella Bittencourt Féder


Hoje, na faculdade, um professor levou aos alunos uma visita muito interessante. Inspirada - e o que é que não me inspira? - por uma proposta dela, rascunhei um diálogo no Word. Se alguém conseguir desvendar quem está conversando nele, vai ganhar um magnífico... posso tentar oferecer um parabéns? Eu gostaria muito que vocês tentassem. Não tenho grandes ambições quanto ao número de comentários que essa brincadeirinha pode gerar, mas se chegarem dois ou três, já fico feliz. Aí vai (e nada de dicas):


Despedida

-Já passei da hora. Cumpri minha missão por aqui.
-Por favor, não se vá. Somos tão próximas. Faz ideia de como vou sentir sua falta?
-Sob seus cuidados, durei tanto quanto pude. Estou velha, fraca. Meu corpo já não aguenta resistir à ação dos seres decompositores.
-Não diga isso. Posso te ver perfeitamente, você está ótima!
-Sabemos que não é verdade. Estamos mentindo para nós mesmas. Logo virão me buscar, e digo que já vêm tarde.
-Minha querida amiga... Compartilhamos tantas histórias nesses anos em que estivemos juntas... E quantos segredos!
-Lembra-se da Mel? Já morava aqui quando me mudei. Mas não aguentou o movimento. Logo se desgastou e foi embora. Foi e levou a Moça com ela.
-Recordo-me perfeitamente. Quão doces eram as duas... De todos que passaram por aqui – uns tão rapidamente que sequer se deixaram notar –, alguns tiveram presença marcante.
-Como você lida com isso? Você abriga a todos sob as suas asas com tanto carinho. O que sente ao ter que se desfazer de todos o tempo todo? Afinal, ninguém para por aqui... É um local de passagem. Raro alguém permanecer esquecida por tanto tempo como eu.
-Você não está esquecida. É bonita, moderna. As más línguas ainda arriscariam palavras mais ousadas. Você nunca deixou de ser olhada. Não raramente, é percebida várias vezes por hora, sempre que abrem minhas portas, deixando a luz entrar.

É proibido escrever

Por Daniella Bittencourt Féder


*Post relâmpago e de leiturinha rápida.


François Truffaut se combinou perfeitamente com Ray Bradbury ao escolher um roteiro adaptado de um livro de ficção do autor para dirigir. O resultado da união foi o genial longa-metragem Fahrenheit 451 - que leva o mesmo nome da obra de Ray. O livro teve a primeira edição publicada em 1953. O filme, foi lançado em 1966. Hoje, já é remasterizado e deve constar no acervo de qualquer "devedêlocadora" que se preze.
Numa época em que a sociedade é completamente alienada, o totalitarismo e a tecnologia reinam. Incêndios não acontecem mais, e a única função dos bombeiros é queimar todo e qualquer material escrito. Nada se escreve e nada se lê. Assim, constroem-se relações humanas vazias e pessoas supostamente livres de sofrimentos. "É verdade que no passado os bombeiros apagavam incêndios?" No decorrer da trama, farsas e paradoxos vão surgindo para provar que uma civilização não se mantém sem a escrita. Afinal, faz sentido destruir a construção da memória?

Quem ainda não tem este filme no repertório cinematográfico que coloque a pipoca Yoki no microondas, assista a ele o quanto antes possível e volte aqui para contar as impressões pessoais. O livro também vale a pena. Inclusive, quem conhece os dois, tende a preferi-lo.

sábado, 19 de junho de 2010

Dono Cãociente + Adote um Gatinho

Fãs e donos concientes de cães e gatos, fiquem ligados: aqui vão dicas de dois projetos incríveis para vocês potencializarem seu amor e atitude pelos animais e pela sociedade.

Para os dog lovers de plantão, a campanha Dono Cãociente: a idéia é promover um pensamento mais racional no dia-a-dia com o pet, mantendo a cidade limpa e o bichinho saudável.
E a campanha vai além: dia 20 de Junho, a Dono Cãociente, a DeROSE e a Defesa Civil do Estado de São Paulo vão realizar a 1ª Cãominhada da Campanha do Agasalho. Aproveitando o início do inverno, a caminhada pretende reunir os donos de cachorros numa caminhada solidária tendo como entrada a doação de um agasalho.


Serviço:

1ª Cãominhada da Campanha do Agasalho
Data: 20 de Junho
Horário: a partir das 9 horas
Local: partida do Espaço Cultural DeROSE Paes de Barros (Av. Paes de Barros, 1197, Mooca - São Paulo/SP)
Ingresso: doação de um agasalho


Os amantes dos felinos vão, sem dúvida, se sensibilizar com as histórias dos gatinhos resgatados pelo pessoal da Adote um Gatinho. A ONG surgiu do interesse mútuo de um grupo de amigos em ajudar animais abandonados. Desde 2003, o pessoal da Adote um Gatinho faz um trabalho 100% voluntário, resgatando gatos e até alguns cachorros das ruas, trazendo para a ONG, alimentando, oferecendo cuidado veterinário e muito amor. A ONG já doou mais de 2200 gatinhos, mas conta com a ajuda das boas almas que compram na lojinha, fazem doações em ração, remédios e acessórios e contribuições em dinheiro. E, é claro, com os padrinhos e madrinhas e pessoas que adotam os gatinhos!

Confiram os sites e façam a diferença!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Os donos da vida

Por Daniella Bittencourt Féder


J.Craig Venter

Desde o ano passado a equipe do cientista inglês J. Craig Venter tem deixado os meios de comunicação a par de cada passo de um experimento revolucionário: a criação de uma forma de vida sintética. No mês passado, a revista Science anunciou o sucesso da operação. As informações genéticas de uma bactéria foram copiadas, transferidas para o corpo de uma célula sem DNA e modificadas, para que não houvesse rejeição (as bactérias possuem um sistema imunológico que funciona como um antivírus, bloqueando qualquer material genético desconhecido). Em seguida, esse genoma modificado foi implantado em outra bactéria. O resultado foi, literalmente, a criação da vida. A nova bactéria passou a normalmente funcionar e se multiplicar. Conforme publicação no Estadão.com.br, parafraseando o próprio Venter, “é a primeira espécie autorreplicante no planeta cujo pai é um programa de computador”.

Tudo isso pode ser empolgante para a ciência. Na mais extrema das hipóteses, organismos inteiros podem criados. Mas também, a partir desse estudo, bactérias benéficas podem ser desenvolvidas – capazes de digerir o óleo ou de impurezas da água, por exemplo. Dando vida a uma linhagem de quaisquer delas, sempre há o risco de se perder as rédeas da situação, como aconteceu com os alimentos e plantas geneticamente modificados (os transgênicos), que provocam na saúde humana e no meioambiente impactos que sequer foram possíveis de ser calculados. Em outro exemplo, relatos platônicos e outros mais contam que a perdida Atlântida abrigava um povo curiosamente capaz de praticar tentames genéticos, misturando espécies. A lenda do Minotauro pode não ser tão fantasiosa como se pensa. É como se faz hoje em dia com cães; o pit-bull e o dobermann foram criados por meio de cruzamentos com outras raças.

Mas todo esse conhecimento pode se transmutar numa artilharia perigosa. O que aconteceria se uma arma biológica desse nível, com tamanha capacidade de reprodução, fosse solta por aí? Não estou usando o polêmico artifício das teorias conspiratórias, mas sim fazendo referência a um risco que, desde que se anunciou a criação da vida, é perigosamente possível. Os “donos da vida”, Venter e sua equipe, certamente não são dotados de tais cruéis intenções. Mas, em algum momento, devem ter se dado conta das possibilidades do experimento. Brincar de Deus é, no mínimo, uma ousadia muito arriscada.

domingo, 30 de maio de 2010

Imin Matsuri 2010

Imin Matsuri 2009. Créditos: Tadaima!

Quem gosta de cultura japonesa e mora em Curitiba, agendas a postos: vem aí a 20a edição do Imin Matsuri (Festival da Imigração Japonesa).
Juntamente com o Hana Matsuri (Festival das Flores, que ocorreu em Abril), o evento faz parte da programação anual de todo curitibano aficcionado pelo Nihon. Um dos principais destaques dessa edição do Imin é o concurso Miss Nikkey Paraná, que começa às 19 horas do dia 19 (sábado). O festival, que acontece nos dias 18, 19 e 20 de Junho no Centro de Exposições do Parque Barigüi, também conta com suas atrações tradicionais: a área gastronômica - com mais de 60 pratos típicos -, a feira de artesanato e uma extensa programação de atrações culturais e artísticas. E os fanáticos por futebol não precisam se preocupar: o Imin contará com telões para a transmissão dos jogos da Copa.


Serviço:
XX Imin Matsuri 2010
Data: 18, 19, 20 de Junho
Horário: 18 (sexta-feira) - 18 às 22 horas; 19 (sábado) - 11 às 22 horas; 20 (domingo) - 11 às 20 horas
Local: Centro de Exposições do Parque Barigüi
Ingressos: 18 (sexta-feira) - entrada franca; 19 (sábado) - R$5,00*; 20 (domingo) - R$5,00*
*Crianças menores de 12 anos e idosos com mais de 60 são isentos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Câmara dos deputados aprova Ficha Limpa

Por Daniella Bittencourt Féder


Conseguir exercer nosso direito à democracia não deveria ser uma vitória, mas infelizmente é

A Ficha Limpa é um projeto de lei que prevê que políticos com débitos na justiça não possam concorrer às eleições. A lei já existe para concorrentes à cargos públicos, mas ainda não para o eleitorado. Permitir a um sujeito com processos ativos contra si que concorra a eleições para representar o país, na minha opinião, é só mais uma sujeira.
A petição Ficha Limpa teve uma mobilização online incrível, através do site www.avaaz.org. Qualquer movimento que pede mudanças sociais, políticas ou econômicas no país deveria ter uma movimentação real significante, e não virtual. Mas não posso deixar de ficar feliz pela Câmara dos Deputados ter aprovado a Ficha Limpa. Eu era só mais uma que não acreditava que o projeto não tinha apoio político o suficiente para passar pela Câmara, e fui positivamente surpreendida. Mas, calma lá, ainda tem chão pela frente: a Ficha Limpa fez as malas ontem para visitar o Senado e, se conseguir passar por lá também, segue para o poder presidencial.
A internet é uma ótima ferramenta para mobilização coletiva, e talvez deva ser usada mais frequentemente para o Brasil correr atrás da conquista real da democracia. É, os tempos são outros...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Documentário sobre Atlântida

Por Daniella Bittencourt Féder



O André Gomes, que já escreveu no Atualize, indicou um documentário muito interessante sobre descoberta de ruínas que podem ser a Atlântida. O documentário compara os relatos de Platão sobre a cidade perdida com uma antiguíssima - e magnífica - construção encontrada em Creta.
Ele passou no The History Channel, mas está em exibição no Youtube, dividido em cinco partes:

terça-feira, 4 de maio de 2010

Solidariedade no Hospital Pequeno Príncipe

Por Daniella Bittencourt Féder


A companhia dos voluntários é o momento mais gostoso do dia-a-dia das crianças no hospital

No início do século XX, em pleno cenário de Primeira Guerra Mundial, um grupo de mulheres curitibanas decide criar um centro de atendimento de saúde para crianças. Assim feito, nos anos 70 o local foi consolidado como o Hospital Pequeno Príncipe, que hoje faz parte do grupo dos maiores e mais renomados hospitais pediátricos da América Latina, contando com um dos trabalhos de voluntariado com crianças mais respeitados no Paraná. O trabalho solidário realizado pelos voluntários é de extrema importância tanto para o hospital quanto para as crianças internas e, comprovadamente, contribui para a melhoria delas.

A criança interna vive em um círculo social bastante limitado dentro do hospital, do qual fazem parte, basicamente, médicos, familiares, outras internas e seus familiares e o voluntário, o agente social que tem o papel de descontrair e divertir a criança, numa relação de pura e simples amizade. Além disso, ele a auxilia no que for preciso para que o período de internação pareça mais leve. Há, inclusive, uma área de diversão dentro do hospital que só é utilizada quando pelo menos um voluntário acompanhando: a brinquedoteca. “Lá é o lugar mais legal, porque dá pra brincar com as outras crianças e fazer um monte de coisas. E todo mundo vai lá”, diz o pequeno Nicolas, de seis anos, que ficou internado no hospital durante três meses, vítima de uma pneumonia. Ele diz que, se for para voltar, só quer ficar na brinquedoteca.

Enquanto os médicos são presentes quando para a realização de exames (ah, o medo de injeção!) e a família os incentiva – aos olhos da criança, é simples assim – os voluntários têm (e mantêm) a posição de diverti-las. Contam “historinhas”, brincam, levam brinquedos e jogos, conversam... Nada que os médicos e familiares também não façam. A diferença é que os voluntários não têm qualquer tipo de “intenção médica”, ou seja, não pedem às crianças que façam exames, não explicam que eles são necessários para a melhora delas, não as distraem para que elas não se assustem ou se impressionem ao serem observadas. O momento entre os dois é um momento tranquilo e gostoso distração do ambiente hospitalar.

A procura pelo voluntariado é tamanha que há uma imensa fila de espera para quem quer participar do projeto. Luiza, que veio de São Carlos para estudar psicologia em Curitiba conta que teve sorte: “Quando fiquei sabendo do Hospital Pequeno Príncipe, vim ver se podia ser voluntária. Dois dias depois eu já estava trabalhando aqui”.

Às segundas-feiras o Pequeno Príncipe recebe o grupo de palhaços “A Trupe da Saúde”, que visita todas as crianças, uma a uma. Dentre os muitos papeis que representa, o favorito delas parece ser os “Loucologistas”, médicos atrapalhados que , como eles mesmos dizem: “levam a terapia do riso para os pacientes”.






Chorões e chorinho

Por Gislaine Cristina da Silva

Saxofonista curitibano Ari Lunardon integrou a orquestra de Roberto Carlos e recebeu elogios de Clodovil


Aos 69 anos, o músico Ari Lunardon tem muito o que contar. Curitibano, é um dos melhores saxofonistas de todo o Brasil e considerado um dos melhores intérpretes de chorinhos.
Uma de suas atuações mais marcantes foi na orquestra de Roberto Carlos, onde permaneceu por oito anos. Hoje, quando não está com seu saxofone, é possível encontrar Ari Lunardon passeando por ruas e praças públicas de Campo Largo, na Região Metropolitana, com o intuito de relembrar sua infância, as brincadeiras, as pessoas que fizeram parte de sua vida. Observador, consegue perceber todas as mudanças que ocorreram ao longo dos anos e as descreve com perfeição. Não se trata apenas de nostalgia, mas da lembrança de tempos passados.

Sua vida como músico iniciou aos nove anos de idade, quando morava com sua mãe em um colégio do Estado, no bairro Campo Comprido, em Curitiba, através do intermédio de um professor português. Ari toca saxofone alto e barítono. A relação com a “terrinha campolarguense” surgiu pelo fato de que seu pai possuía uma pedreira na cidade, na localidade hoje conhecida como Guabiroba.

Ari Lunardon conta que um dos melhores momentos ocorridos em sua vida nos últimos anos foi a sua participação especial na festa de bodas de ouro de seus primos, o casal Celma e Atílio Gionédis. “Eu estava fazendo show em Santa Catarina. Recebi o convite e em primeiro instante, não poderia participar do evento. Mas no dia da cerimônia das bodas de ouro e a poucas horas da festa, resolvi cancelar a apresentação e pegar a estrada”, conta. De acordo com o saxofonista, seus familiares que estavam presentes na cerimônia jamais o viram tocar. “Resolvi pegar o saxofone e fazer uma surpresa. Afinal, era uma ocasião especial”, ressalta.

O músico não participou da cerimônia, mas esperou por todos em um coreto, localizado em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora da Piedade, na Praça Atílio de Almeida Barbosa, em Campo Largo. “Quando todos saíram, comecei a tocar e me aproximei de uma Limosine que aguardava meus primos. Todos ficaram emocionados, modéstia à parte”. Também não era para menos que os presentes ficassem emocionados, já que Ari Lunardon tocava a música Fascinação, de Elis Regina.


Paixão



A paixão pela música é visível em todas as frases e discursos de Ari Lunardon. Além de integrar a orquestra de Roberto Carlos, já atuou na orquestra Tabajara, do Maestro Severino Araújo. Também já integrou a banda de música na Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáutica e Infantaria de Guarda (EOEIG), criada em 1957, onde serviu durante 25 anos. Participou das gravações do extinto “Clodovil em Noite de Gala”, programa apresentado pelo polêmico e irreverente Clodovil Hernandes, na Central Nacional de Televisão (CNT). “Guardo a gravação de um dos programas em que Clodovil elogia meu trabalho. Afinal, não é sempre que se recebe um elogio deste porte”, diz. As gravações do programa que reunia entrevistas, musicais e desfiles, além de debates eventuais sobre os assuntos do noticiário geral, aconteciam na Ópera de Arame, um dos principais atrativos turísticos de Curitiba. “Já toquei ao lado de muitos músicos renomados, entre os quais, Raul de Souza, que também participou da banda da Aeronáutica”, diz. Raul de Souza é considerado um dos maiores trombonistas do mundo e um ícone da música instrumental brasileira.

Lunardon lembra também dos momentos que viveu no Baile da Saudade, que abrilhantou o programa comandado por Francisco Petrônio. Premiado pelo talento com a música, Ari Lunardon fez parte de uma orquestra que acompanhava Aguinaldo Rayol; da Orquestra do Sistema Brasileiro de Televisão - SBT “Silvio Santos”; Orquestra do Maestro Roberto Gagliard, Orquestra Carinhoso; Orquestra Sinfônica do Paraná e muitas outras. Próximo a realizar um sonho, Lunardon foi convidado a participar da orquestra Tabajaras, uma das mais famosas do Brasil, criada há 63 anos pela regência do maestro Severino Araújo. Devido a problemas de saúde, não pôde estar entre os mais renomados músicos do país.

Atualmente, Ari realiza shows esporádicos em diversos Estados do país. Há cerca de dois anos, gravou junto ao pianista Waldir Teixeira um disco de chorinho em nova concepção. Como disse o jornalista Aramis Millarch em matéria no Estado do Paraná no ano de 1988, o chorinho feito pelos músicos é marcado por uma linha melódica de difícil execução, com uma harmonia mais avançada e que não fere os ouvidos mais ortodoxos.

sábado, 17 de abril de 2010

40 propostas para o Brasil

Por Daniella Bittencourt Féder



A notícia se espalhou por redes de relacionamento e chats da internet, e quem tentou acessar hoje o site do PMDB, teve uma surpresa: a página foi invadida por um hacker (supostamente contratado) e redirecionou todos os acessos para o endereço www.freewebs.com/rockinriopardo/pmdb.html. No lugar de ofensas e demonstrações de descontentamento, que combinariam com a ousadia perigosa de invadir o domínio virtual de um partido político, o conteúdo que tomou o lugar do site foi um texto - no mínimo interessante - que apresenta "40 propostas para o Brasil". Confira:


EDUCAÇÃO

1 Choque de meritocracia na educação
Mérito é premiar com promoção e aumento de salário os professores que formam mais alunos capazes de atingir boa colocação em disputas acadêmicas internacionais. O conceito é desconhecido no Brasil. Aqui quase sempre o professor recebe aumento de salário por tempo de serviço. Na ausência de outros fatores e só com a aplicação de um choque de meritocracia, o desempenho dos alunos brasileiros em matemática ficaria entre os 43 melhores do mundo, ombreando com o de Israel e Itália, e não, como é agora, em 53º lugar, ao lado do Quirguistão.

2 Convencer os pais de que eles são parte da escola
Pais educam. Escolas ensinam. Esse provérbio caducou. As pesquisas mostram que, além de um bom professor, nada melhora mais o desempenho escolar do que o envolvimento dos pais no processo educacional. É uma guerra cultural que pode ser vencida com as armas certas: a internet (os pais podem até acompanhar algumas aulas) e os cursos para pais.

3 Ampliar a rede de ensino técnico superior
O ensino de geografia, ciências sociais e outras áreas de humanas conta pouco. O fator decisivo para o progresso material está no ensino da matemática, das engenharias e da física aplicada. Apenas 8% dos jovens brasileiros se formam em algum curso superior dessas áreas – contra 18% nos países avançados. A saída é popularizar as faculdades técnicas. Nelas, em dois anos, o jovem obtém um diploma de ensino superior e tem lugar garantido no mercado de trabalho. Foi um sucesso na Coréia do Sul, que, assim, colocou um diploma e um emprego nas mãos de 80% dos jovens.

4 Fomentar a competição entre as universidades
Nenhuma universidade brasileira figura entre as 100 melhores do mundo. Não é surpresa. Elas não têm incentivo para isso. As 100 melhores do mundo lutam para sê-lo para obter financiamento. Aqui, com ou sem desempenho, as verbas públicas chegam religiosamente. Melhorar para quê?

5 Financiar os melhores pesquisadores
Apenas duas de cada 1 000 patentes registradas no mundo são brasileiras. Falta incentivo. O pesquisador brasileiro que registra patentes ganha, em geral, a mesma verba de quem não registra nenhuma. A tendência mundial é dar mais aos pesquisadores que produzem mais conhecimento original e valioso.

6 Criar currículos obrigatórios para a educação básica
Um ponto em comum entre os dez países de maior sucesso educacional, social e material do mundo é a existência de um currículo obrigatório na educação básica. Sem um currículo com metas acadêmicas bem definidas, nenhum país progride. Na maior parte do Brasil, não há esse currículo.

7 Investir na formação dos professores e de quem forma os professores
A cadeia do ensino tradicional tem alunos, professores, diretores e pedagogos. Falta uma categoria: a dos profissionais que ensinam os professores como ensinar. Apenas 20% das disciplinas nas faculdades de pedagogia se dedicam às metodologias de ensino, mostra um estudo da revista Nova Escola Fundação Carlos Chagas.


AMBIENTE

8 Mais pesquisa ambiental no Brasil
Tanto a Amazônia como as áreas de proteção ambiental no Brasil recebem pouquíssimos pesquisadores. Apesar de ocupar cerca da metade do território nacional e ser o cenário da maior biodiversidade do planeta, a Amazônia concentra apenas 5% dos pesquisadores brasileiros. Significa que há um cientista para cada 4 000 quilômetros quadrados. Apenas 10% das espécies da região estão catalogadas. Só com conhecimento profundo dos biomas brasileiros será possível criar estratégias mais eficazes para a preservação daqueles tesouros naturais.

9 Dobrar o saneamento básico em dez anos
Menos de 50% dos domicílios brasileiros são ligados à rede de esgotos. Destes, apenas 35% recebem tratamento. O restante é despejado diretamente em rios, córregos e lagos. O Brasil ainda é africano nessa área. O ministro Carlos Minc estima que tratar 70% dos esgotos até 2018 custaria 12 bilhões de reais por ano. O custo é elevado? Não em vista dos benefícios. Entregar a tarefa à iniciativa privada, por meio de concessões, é uma saída.

10 Transformar pastos em áreas produtivas
O avanço da fronteira do boi e da soja derruba oito de cada dez árvores das florestas de clima da Amazônia. Para deter esse avanço é vital ocupar áreas já desmatadas. Cerca de 16 milhões de hectares de áreas de pasto estão abandonados na Amazônia. Com sua recuperação e uso, a produção de grãos pode crescer 30% na região sem exigir a derrubada de uma única árvore. Recuperar custa o dobro do que simplesmente desmatar. Subsidiar a recuperação de áreas degradadas é a abordagem econômica mais racional.

11 Premiar prefeituras pela preservação ambiental
A degradação ambiental tem maior impacto sobre a qualidade de vida dos habitantes das cidades do que para o morador de um grotão isolado na floresta. Por essa razão, iniciativas locais de preservação são mais impactantes. É exemplar o sucesso do programa ICMS Verde, adotado no Paraná para premiar municípios com desempenho acima da média no tratamento de lixo e na conservação de bacias hidrográficas. A área preservada no estado cresceu doze vezes nos últimos dez anos.

12 Unificar as leis ambientais
O Brasil tem mais de trinta leis ambientais federais. Combinadas às regras estaduais e municipais essas leis deixam apenas 30% do território livre para a ocupação econômica. Como não temos 70% do território ocupado por paraísos ecológicos, fica óbvio o exagero das restrições. O emaranhado legal provoca insegurança jurídica, dificulta a fiscalização e cria oportunidades para a corrupção. Leis mais simples são, sempre, mais eficientes.

13 Dar independência financeira aos parques ecológicos
Os 63 parques nacionais ocupam uma área de 24,1 milhões de hectares, o equivalente ao território do estado de São Paulo. Em comum, têm o fato de ser mal administrados – são apenas 348 funcionários para cuidar de todos. Eles falham na missão preservacionista e, quando abertos à visitação, oferecem serviços precários. São como os cofres públicos para os corruptos: uma riqueza a ser apropriada pelo mais esperto. Os Estados Unidos têm oitenta vezes mais visitas pagas em seus parques. É hora de valorizar os nossos, protegê-los e mantê-los com o dinheiro arrecadado dos visitantes.

14 Criar um plano nacional de zoneamento econômico-ecológico
O governo paga aventureiros para derrubar a floresta amazônica, dando-lhes crédito destinado à atividade agrícola. Isso não se faz por maldade, mas por ignorância sobre quais são as áreas aráveis do território nacional e quais são as preserváveis. Ninguém sabe ao certo onde começa uma e acaba a outra. Muitos debates gastam horas apontando a mesma área no mapa e enxergando nela solos diferentes. O zoneamento agroclimático é ferramenta vital para planejar o desenvolvimento sustentável.

15 Tornar mais vantajoso manter uma árvore de pé do que cortá-la
Dez milhões de moradores da Amazônia Legal dependem da atividade extrativista ou agropecuária. Para eles, discurso e consciência ecológica não funcionam. Eles precisam de medidas que tornem mais vantajoso preservar do que destruir. O governo da Costa Rica remunera proprietários que conservam as matas nativas em suas terras. Um estudo mostra que, em Mato Grosso, dar 1 000 reais ao ano por hectare preservado seria estímulo suficiente para conter a devastação. É quase de graça.

16 Investir em fontes renováveis de energia
Nos próximos dez anos o Brasil precisará acrescentar produção equivalente à de três usinas de Itaipu para suprir sua necessidade de energia elétrica. O sol e os ventos abundantes no país podem oferecer parte da solução. O potencial da produção de energia eólica é estimado em dez Itaipus. A incidência solar no Brasil é o dobro da registrada na Alemanha, um dos países que mais investem nessa fonte renovável de energia elétrica.

17 Não desperdiçar energia
Para cada dólar produzido pela economia, o Brasil precisa de 40% mais de energia do que os Estados Unidos e 70% mais do que a Alemanha. Isso se deve menos ao custo de geração do que ao desperdício. O Brasil perde 16,5% de toda a energia elétrica produzida. É quase uma Itaipu que se joga fora a cada ano. Para tornar mais eficiente o aproveitamento da energia, seria preciso investir em duas frentes: programas de conscientização dos consumidores e a busca de processos industriais e equipamentos mais econômicos.


ECONOMIA

18 Reforma da Previdência já
O custo da Previdência é um dos principais motivos pelos quais o Brasil lidera o ranking mundial de juros reais e tem uma carga tributária de 36% da riqueza produzida pelo país. Ele consome 12% do PIB. Nenhum país emergente consegue crescer de forma acelerada com tamanho peso nas costas. A China e o Chile gastam 3%. A Colômbia, apenas 1%. Se a despesa previdenciária brasileira fosse de 6%, o país economizaria 180 bilhões de reais ao ano. Com esse dinheiro, as pessoas e empresas pagariam 17% a menos de impostos, com melhoria de qualidade de vida para todos

19 Criar um teto para os gastos públicos
De todos os agentes econômicos, quem gasta pior é justamente aquele que não produz nenhuma riqueza: o governo. No Brasil, os gastos do governo federal crescem, em termos reais, duas vezes mais rápido do que a economia. Dentro de quinze anos os impostos vão equivaler à metade de toda a riqueza que o país produz. É ruinoso? Sim. Reversível? Só por força superior. O aumento real do gasto público brasileiro deveria ser limitado por emenda constitucional ao teto de 1% ao ano.

20 Um Banco Central independente
Se o Banco Central brasileiro tivesse a independência assegurada por lei, a taxa real de juros cairia imediatamente até 3 pontos porcentuais – de 7% para 4% ao ano. O crescimento do país saltaria dos atuais 5% para 7% ao ano. É preciso outra justificativa?

21 Aplicar a lei de responsabilidade fiscal ao governo federal
Essa lei revolucionou o controle das contas públicas. Com ela, os estados e municípios foram obrigados a reduzir sua necessidade de financiamento em 20% desde 2001. Imune a ela, a União fez o movimento inverso e aumentou seu déficit em 79% no mesmo período.

22 Modernizar as leis trabalhistas
Ao lado de Zimbábue e Zâmbia, o Brasil ocupa a 119ª posição no ranking mundial de adequação das leis trabalhistas. Por isso, metade dos brasileiros tem ocupação informal. Uma mudança radical que extirpasse os arcaísmos custosos e corporativistas incentivaria a contratação formal com conseqüências saneadoras na Previdência (mais gente contribuindo), positivas na carga fiscal (mais gente pagando menos) e redentoras para o ambiente de negócios.

23 Tornar as agências reguladoras menos vulneráveis ao loteamento político
A certeza do cumprimento de contratos é uma das condições definidoras de um país moderno, ao lado do direito de propriedade e do ambiente de negócios. E como garantir que os governos preservem seus contratos? O mecanismo clássico, adotado e aprovado nas melhores economias, são agências reguladoras equipadas e protegidas contra a ingerência política. No Brasil há agências reguladoras, mas elas estão longe de ser imunes às pressões políticas.

24 Garantir a concorrência na exploração do pré-sal
Desde o século XVI a humanidade sabe que os recursos naturais não levam, necessariamente, ao progresso econômico e social. Isso foi aprendido com sangue no ciclo de exploração da prata e do ouro na América Latina. Foi reafirmado pelos diamantes da África subsaariana e agora o petróleo da Venezuela. É a maneira de explorar esses recursos que produz conhecimento e bem-estar. Só se obtém riqueza efetiva quando os recursos naturais são explorados de forma transparente e competitiva.

25 Poupar os dólares do petróleo
A humanidade vai um dia encontrar um substituto para esse líquido escuro e pegajoso. Enquanto isso não ocorre, é crucial utilizar as reservas com sabedoria. Se todo o potencial dos depósitos de petróleo na chamada camada pré-sal do litoral brasileiro for confirmado, o Brasil pode vir a se transformar em um grande exportador de petróleo. O que fazer com os dólares obtidos? A opção mais racional é o depósito dos lucros do petróleo em um fundo externo, gastando-se apenas parte dos rendimentos. Isso preservaria a riqueza para as gerações futuras e impediria pressões cambiais e inflacionárias desestabilizadoras.

26 Privatizar a gestão hospitalar
Hospitais administrados pelo estado são menos eficientes e tratam pior seus pacientes. No estado de São Paulo, a taxa de mortalidade em hospitais geridos diretamente pelo governo é de 5,3 em cada 1 000 pacientes e o custo de cada internação é de 400 reais por dia. Em 25 hospitais terceirizados no mesmo estado, a taxa de mortalidade cai para 3,3 por 1 000 pacientes e o gasto por internação, para 360 reais. Essas e outras estatísticas a favor da privatização da gestão da saúde são absolutamente convincentes.

27 Privatizar a infra-estrutura
Não fosse pela infra-estrutura caótica, hoje majoritariamente nas mãos do governo, o Brasil poderia contar com 250 bilhões de reais a mais no PIB – um valor equivalente ao PIB do Chile.


LIBERDADE DE IMPRENSA

28 Acabar com a Lei de Imprensa
A Lei de Imprensa foi aprovada em 1967 – plena ditadura militar. Seu objetivo era intimidar jornalistas e meios de comunicação. Numa democracia, uma lei como essa não faz sentido. Há dispositivos suficientes na Constituição e nos códigos Civil e Penal para coibir abusos nos jornais e revistas. Mas seria recomendável a criação de uma lei sucinta para delimitar o valor das ações de direito de resposta e de dano moral. Isso daria segurança jurídica aos jornalistas e às empresas que mantêm um dos pilares da democracia: a liberdade de informação.


DEMOCRACIA, RAÇA E POBREZA

29 Profissionalizar a gestão pública
A palavra burocracia nasceu com sentido positivo: um estamento dedicado à organização ágil e racional. Com o tempo a burocracia passou a ser um fim em si mesma. O público que se dane. Em estados brasileiros como São Paulo, Minas Gerais e no Distrito Federal, a burocracia começa a retomar seu sentido original. Para isso foram adotados modelos empresariais, como a orientação para resultados, a flexibilidade e a recompensa do mérito. Quando a prática se espalhar e chegar a Brasília, será o caso de comemorar um novo descobrimento do Brasil.

30 Recriar o federalismo
Com a Constituição de 1988, o governo federal passou a concentrar a receita dos impostos, e com isso usurpou uma parte do poder de estados e municípios para decidir onde investir dinheiro. Reverter esse processo daria ao governo federal o papel de coordenador e aos estados e municípios maior autonomia para atender às necessidades dos cidadãos. Pois o fato é que ninguém vive nesse espaço abstrato chamado "União".

31 Fiscalizar os programas sociais
Uma pesquisa do iBase com brasileiros no Bolsa Família mostra que 64% dos próprios beneficiários excluiriam todos aqueles que se recusassem a cumprir as poucas exigências do programa – a mais importante delas é manter o filho na escola. O mesmo estudo revela que o governo é leniente e falha ao vigiar o cumprimento das exigências. Dar dinheiro é entregar o peixe. Cobrar a contrapartida é ensinar a pescar.

32 Inserir os pobres no mercado de trabalho
A melhor coisa que programas assistencialistas podem fazer por um miserável é transformá-lo num trabalhador capaz de prover as próprias necessidades. Dar qualificação profissional a quem nunca a teve, ou criar programas de microcrédito, que transformam excluídos em pequenos empreendedores, é mais que um paliativo. É uma cura real da pobreza.


MEGACIDADES

33 Eliminar as favelas da paisagem
Nas cidades do país, 12,3 milhões de pessoas vivem em casebres, a maioria deles em situação irregular. Se nada for feito, em 2020 haverá 55 milhões de favelados – praticamente uma Itália – no Brasil. É preciso revogar a negligência e o populismo que permitem o surgimento de favelas. No caso das já existentes, eliminar as que estão em área de risco ou proteção ambiental. Conferir títulos de propriedade é um primeiro passo para a urbanização dessas chagas das grandes cidades.

34 Superprefeitos para as regiões metropolitanas
Os prefeitos das cidades que fazem parte de uma região metropolitana são como condôminos que jamais se reúnem para discutir os problemas do prédio onde moram. São Paulo é um exemplo dramático. A prefeitura não consegue limpar o Tietê porque Guarulhos não tem rede de esgoto tratado e despeja imundície no rio. Um superprefeito seria como um síndico eficiente. Com perfil técnico, poderia coordenar o uso da água, o saneamento, o destino do lixo, a unificação do transporte entre cidades. Quem escolheria o superprefeito? O governador do estado.

35 Combater o tráfico de drogas com realismo
O tráfico de drogas é o principal responsável pela criminalidade no Brasil. No Rio de Janeiro, os barões da cocaína controlam 300 das 752 favelas. Não é possível extirpar a droga do cotidiano urbano, mas dá para diminuir as taxas de violência associadas a ela. Para tanto, urge eliminar o caráter territorial do tráfico brasileiro. É pelo controle de áreas geográficas, nas quais também exploram outros serviços tão lucrativos quanto ilegais, que os bandos se digladiam. Há mais cocaína em Nova York do que no Rio, mas lá os traficantes não têm feudos a defender ou tomar. Circulam para vender o seu único produto.

36 Planejar o crescimento
As cidades médias, com população entre 100 000 e 500 000 habitantes, são as que mais crescem no Brasil. Como resolver um problema urbano custa 100 vezes mais do que preveni-lo, é óbvio o ganho em se planejar a expansão dessas cidades. As prefeituras devem estabelecer regras férreas sobre o que pode ou não ser feito em termos de ocupação do solo, tendo em vista o futuro almejado para seus municípios.

37 Tirar a majestade do carro
No Primeiro Mundo, progresso é transporte coletivo de qualidade e restrição severa à circulação de carros, por meio de medidas como rodízio e pedágio. O Brasil está na contramão, porque suas cidades continuam a reduzir o espaço para pedestres, a ampliar as vias para automóveis particulares e a tratar o transporte público com descaso. São Paulo, onde já rodam mais de 6,1 milhões de carros, pode parar de vez em 2015.

38 Organizar o transporte coletivo
O Brasil é o lugar em que eufemismos viram solução de governo. É o caso do chamado transporte alternativo. A palavra correta é "ilegal". No Rio de Janeiro, a bandalha já superou os serviços regulares. Circulam na cidade 7 500 ônibus de empresas formais e 8 000 vans ilegais. Estabelecer um sistema integrado de transporte é a melhor forma de evitar a invasão de perueiros e assemelhados.

39 Conferir aos ônibus o padrão de metrô
Nos pontos de ônibus londrinos e parisienses há luminosos que informam em quanto tempo chegará o próximo carro de cada linha. A margem de erro é muito pequena, mesmo no horário do rush. É a prova de que o serviço de ônibus pode ser pontual, rápido e guardar intervalos curtos entre as partidas. Para seguirem o exemplo, as cidades brasileiras precisam criar corredores exclusivos.

40 Não se intimidar com os desafios
Quando se fala em problemas urbanos, surgem cifras que, não raro, paralisam as administrações e os cidadãos. Mas sempre é possível encontrar soluções baratas. Curitiba tornou-se referência de transporte público sem gastos excessivos. Também se deve levar em conta que parte dos custos embute a corrupção. São Paulo e Cidade do México começaram a construir metrô no mesmo período. A primeira conta, hoje, com 60 quilômetros de linhas. A segunda, com 200. O quilômetro escavado paulistano custa 500 milhões de reais. O mexicano, 90 milhões. E olhe que a Cidade do México enfrenta terremotos...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Filme: Os Incompreendidos

Por Daniella Bittencourt Féder



Os Incompreendidos foi o primeiro longa-metragem dirigido por Truffaut, em 1959, e o roteiro é dele também. O título original, em francês, é Les 400 Coups (Os quatrocentos golpes), uma expressão francesa que corresponde às nossas "fazer arte" ou "pintar o sete". O filme mostra a infância de Antoine Doinel, um garoto que vive se encrencando pela bela Paris. Pode-se dizer que é um retrato da infância de Truffaut, embora ele próprio não assuma.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Prenda-me se for capaz

Por Daniella Bittencourt Féder


A mão-de-obra escrava ainda não teve fim no Brasil, e hoje funciona diferente de como era no Brasil colonial - é o trabalho escravo contemporâneo


Em 13 de maio de 1888 foi assinada, pela Princesa Izabel, a Lei Áurea, que proibiu a escravatura no Brasil. Apesar da lei estar em vigor, a realidade brasileira ainda se depara com campos onde há a prática clandestina da escravidão.

No Paraná, a Comissão Pastoral da Terra registrou, em 2009, 227 trabalhadores sujeitos ao regime escravo, e 391 no ano de 2008, e garante que todos já foram libertados. Segundo ela, o que se observa da escravidão contemporânea – ou moderna – é que ela tem início com uma proposta verbal do pagamento de alguma dívida em forma de prestação de serviços. Após uma negociação ilusória (porém atraente) sobre as condições de trabalho e remuneração, que costuma envolver um adiantamento em dinheiro para a família do aliciado, ele segue viagem para o isolado local de trabalho, sem transporte e alimentação pagos. Chegando ao estabelecimento, vigora o “sistema de barracão”, no qual o peão tem o salário convertido em “vales” para pagar as refeições, ferramentas de trabalho e demais objetos a preços exorbitantes. Como a dívida inicial não cessa em aumentar, a vítima fica detida no local, com documentos apreendidos. A CPT conta que, em casos extremos, há vigias armados e pistoleiros que impedem a fuga, maus tratos, punições, ameaças, alimentação insuficiente, condições de vida fracas e carga horária pesada com afazeres excessivos. Como também não há cuidados médicos, os serviçais muitas vezes permanecem doentes e machucados – nos canaviais, não são raros os casos em que os peões acabam por amputar partes do próprio corpo, devido às precárias condições de trabalho.

Como começou

No início do Brasil Colônia, os portugueses que chegavam ao país e se viam sem mão de obra para a realização de trabalhos recorriam, inicialmente, à exploração do trabalho indígena, que era recompensado com a troca de mercadorias. Os índios conheciam bem o local onde habitavam, tinham facilidade de se movimentar pela floresta e grande força física, o que fazia com que os portugueses lhes solicitassem, principalmente, transporte de carga, mostra o livro História e Ética do Trabalho no Brasil, do filósofo e sociólogo Paulo Sérgio do Carmo. Progressivamente, a prática desse abuso passou a ser convertida em regime de escravidão, e logo foi duramente combatido pelos Jesuítas, que pregavam a preservação da “pureza” dos índios. Foi então que começou o livre comércio de homens e mulheres africanos. O professor de história Hermenegildo Pereira Jr. explica que o tráfico de escravos era elemento importante na acumulação do capital, que eles representavam uma mercadoria e eram utilizados para qualquer tipo de serviço, sendo considerados “mãos e pés do senhor do engenho”. O livro Casa Grande e Senzala, de autoria do sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, destina um capítulo somente para a discussão da vida sexual dos escravos. “No livro, há histórias incríveis de ciúmes de ‘sinhazinha’ que mandou extrair os dentes de uma mucama (escrava doméstica) porque percebera que seu marido estava tendo um caso”, comenta o professor.

Sobre a Lei Áurea, Pereira diz que foi uma medida política que não causou grande crise econômica, pois os imigrantes já substituíam, aos poucos, a antiga mão- de- obra, e que não houve qualquer espécie de amparo ao ex-escravo para ingressar no mercado de trabalho – diferente do que acontece hoje, com o trabalho da CPT.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Um ataque de irreverência musical

Por Alexandre Todt


Misture doses de música clássica com muita quebrada de ritmo, uma pitada de jazz traduzida em contrabaixos, trompetes, violoncelos... e uma boa xícara de rock, dos mais variados gêneros. A receita é a fórmula para o Sing Along Songs For The Damned & Delirious Sensory, novo álbum da banda sueca Diablo Swing Orchestra, lançado este ano.

Esses doidões do rock conseguiram criar um dos álbuns mais empolgantes que escutei neste ano de 2010. "Gênios!" foi a primeira coisa que me veio à cabeça ao ouvir o segundo CD desses “terroristas musicais” que têm o dom de fazer, com as sonoridades mais inimagináveis e absurdas possíveis, uma salada de frutas musical.

O álbum une 10 faixas de pura energia e impecável execução. Tango Metal, A Rancid Romance e a levada russa e os riffs intrincados de Vodka Inferno (minha preferida, que tenho escutado todos os dias desde que conheci o álbum) fazem o ouvinte - ou vítima - entrar no melhor sentido de uma paranóia musical. Até a capa do CD foge ao padrão, lembrando com nostalgia a capa de
algum
vinyl infantil dos anos 80.

A recomendação fica para quem não abre po
rtas para o preconceito musical e não dispensa irreverência.

terça-feira, 16 de março de 2010

Quatro voltas de cultura gratuita no relógio

Por Daniella Bittencourt Féder


Evento cultural do estado de São Paulo acontece no final de maio em várias cidades paulistas e tem boas expectativas


Mais de 700 atrações prometem agitar São Paulo nos dias 22 e 23 de maio (sábado e domingo), no maior evento cultural do interior e litoral do estado, a Virada Cultural Paulista, que acontece uma vez por ano. O evento visa proporcionar ao público várias horas de entretenimento cultural, e tem entrada gratuita. Serão montados palcos em ruas de 29 cidades do estado. “Artistas internacionais e nacionais, espetáculos de dança, circo, música erudita e mágica animarão os paulistas dos 29 municípios participantes”, promete João Sayad, Secretário de Estado da Cultura. Na capital, os shows vão ser apresentados, como de costume, em pleno centro da cidade, ao ar livre.

Promovida pelo Governo do Estado de São Paulo por meio da Secretaria de Estado da Cultura, a Virada Cultural Paulista hoje chega à sua quarta edição, com investimento de R$ 6,5 milhões de reais e crescimento não somente no orçamento, informa Sayad, mas também no número de atrações e de municípios participantes – que até o ano passado não incluía Piracicaba, São Carlos e outras oito cidades da Região Metropolitana da Baixada Santista. O público esperado é de 1,5 milhão de pessoas.

As 29 cidades que vão receber o evento são Araçatuba, Araraquara, Assis, Bauru, Caraguatatuba, Franca, Indaiatuba, Jundiaí, Marília, Mogi das Cruzes, Mogi Guaçu, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santa Bárbara d’Oeste, São Carlos, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Sorocaba, Santos, Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande e São Vicente.

O paulistano Orlando Si Fang, 25 anos, esteve na edição de 2009 e elogia a ideia do governo de promover espetáculos gratuitamente. “Gostaria que esse tipo de evento fosse realizado mais vezes ao longo do ano, pois pude ver toda a cidade viva por dois dias seguidos”, diz ele, ressaltando que não espera menos da Virada Cultural deste ano e nem da maneira como ela é divulgada e se relaciona com o público. “Logo que cheguei ao local, recebi um material com toda a programação e mapas, o que me foi muito útil. O único ponto fraco foi a coincidência de horários”, completa. Ele conta que em algumas situações foi preciso decidir entre dois ou mais espetáculos que aconteciam ao mesmo tempo, mas a proximidade entre os palcos ajudou.

Destaques

Dentre os artistas da música internacional que vão se apresentar, estão Cat Power, Manu Chao, Yann Tiersen e Mudhoney. E, da música nacional, Sepultura, Paralamas do Sucesso, Titãs, Zeca Baleiro, Pitty, Jorge Aragão, Bebel Gilberto Moraes Moreira, Leci Brandão, Paula Lima, Ultraje a Rigor, CPM22, Negra Li, Lobão, Cachorro Grande, Almir Sater, Dona Ivone Lara, Cordel do Fogo Encantado e Arnaldo Antunes. Além dos shows de música – e também de música erudita -, a Virada Cultural Paulista vai ofertar peças de teatro como “Amigas Pero no Mucho” (com Leopoldo Pacheco e Elias Andreato), “La Putanesca” (com Ângela Dip) e “Calendário da Pedra” (com Denise Stoklos). Também haverá espetáculos de dança, ópera, DJs, exibição de filmes, intervenções urbanas, apresentações de mágica, circo e stand-up comedy com artistas como a drag queen Nany People, o Clube de Improviso, de Itu e Marcela Leal, que participa dos espetáculos Terça Insana e d’Os Improváveis.