terça-feira, 30 de novembro de 2010

A culpa é de São Pedro

Daniella Bittencourt Féder


Estudar quando faz calor é difícil. O calor provoca a queda da pressão e diminui a oxigenação do cérebro, o que causa uma sensação de cansaço, prejudica a concentração e, sejamos francos: só faz pensar em como seria bom não ter levantado da cama hoje. Isso pode explicar aquele aluno que sempre dorme durante as aulas ou aquele outro que, de tempos em tempos, solta um bocejo pegajoso e muito contagioso. “Fulano, vá passar uma água no rosto!” solicita o professor.

Na sexta-feira deu na Gazeta: o final de semana seria de muito sol e calor em Curitiba. E foi. Como aquele domingo estava quente; e como o dia estava lindo! Através dos livros e da janela aberta (que não trazia uma brisa sequer para quebrar o mormaço) eu via o sol, convidativo, que pairava no céu queimando a grama sem dó. Mas era domingo, e na segunda-feira começaria a semana de provas da faculdade. Eu, como universitária, segui o popular estereótipo de estudante e adiei os estudos até onde pude. Que preguiça...

O calor logo começou a fazer efeito – aqueles citados neste mesmo texto, ali no segundo parágrafo. Hmm... Será que posso trocar este livro por uma cervejinha gelada? Que vontade de cair na piscina! Ou quem sabe um bom banho de cachoeira... Foi o que sugeriu um grupo de amigos, via messenger. Estudar em frente ao computador em pleno império das redes sociais dá nisso: só distração. Pronto: a vontade de sair de casa e desfrutar de qualquer atividade ao ar livre foi despertada e não voltaria a dormir enquanto não se fizesse satisfeita.

-Dani, largue os estudos e vamos a uma cachoeira. Faz muito calor lá fora!

-Tenho que estudar... Qual cachoeira?

-Qualquer uma. Vamos, arrume-se!

-Não posso, não posso...

De repente, eram três horas da tarde. A internet, mais uma vez, conspirou contra o relógio e eu não havia estudado e tampouco ido à cachoeira qualquer. Numa última tentativa de me desviar dos estudos em prol de um contato intenso com a natureza, aquele grupo de amigos afinou o violão e criou a música “Dani, vamos para a cachoeira”. A letra, improvisada, dizia: Dani, vamos para a cachoeira / chega de estudar e de ler tanta besteira. Foi o hit do dia, segundo eles. E tenho que confessar que quase provocou o efeito desejado. Mas agora já era tarde para pegar o carro e campear a Estrada da Graciosa em busca da queda d’água que mais nos agradasse. Porém, o calor ainda predominava. E, com o horário de verão, o crepúsculo começaria a tomar posse do céu somente pelas sete ou oito horas da noite.

Dentro de casa, a atmosfera, abafada, juntou-se ao anseio pelo ar livre e me contaminou com uma claustrofobia não muito atípica de quem quer fugir dos estudos numa tarde ensolarada. Rapidamente, convoquei um pequeno pessoal, peguei todos em casa e partimos rumo a qualquer um dos muitos parques da cidade.

Tratei de desfrutar da vivacidade do restinho do domingo com o delirante amargor de uma cerveja geladíssima, que só faz sentido estar sobre a mesa do bar do Bosque do Papa se acompanhada daquela crocante porção de fritas temperada com cebolinha. Petisco tradicional da capital paranaense.

Os estudos? Ah, deixei pra “daqui a pouco”.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Obrigada, mas não estamos interessadas

Por Daniella Bittencourt Féder


Gosto de sentar bem acompanhada numa cadeira de bar e botar o papo em dia. Rir ao sabor de uma boa cerveja gelada. Conhecer pessoas e fazer novos amigos, se a situação o permitir. Sabe como?

Dia desses fui convidada para o aniversário de um amigo num bar onde uma banda tocava clássicos do hard rock e heavy metal. É o tipo de programa que me agrada; é o estilo de música que gosto. Arrastei uma amiga para me fazer companhia e fui – a comemoração do aniversário é o tipo de evento no qual os convidados devem ir acompanhados. Afinal, rodeado de amigos, o anfitrião nunca dedica todo o seu tempo somente a você.

Eu e Vanessa bebíamos e cantarolávamos, acompanhando a banda que tocava músicas às quais já éramos familiarizadas. Vez ou outra alguém parava para conversar conosco: o garçom, um amigo ou algum roqueiro querendo colocar pra fora uma conversa que a cerveja não permitia que ficasse inerte. Foi um desses que grudou na nossa mesa, puxando tantos papos que parecia que tinha outra intenção. Mas havia espaço na mesa para os três, e talvez ele só estivesse curtindo o show, como eu e minha amiga.

Não estava. Começou a incomodar. Nossas atenções, que estavam voltadas somente para a banda e para a cerveja, eram interrompidas por conversas vazias e xavecos furados. Vanessa e eu combinamos, com troca de olhares, de mudar de lugar. Trocamos nossa mesa, que ficava num mezanino com vista privilegiada para o palco e a pista de dança, pela própria pista. Foi uma boa mudança. O som estava ótimo! Divertíamo-nos muito, enquanto as horas da madrugada passavam rapidamente. Na medida em que a manhã se aproximava, o bar ia ficando vazio. E na medida em que o bar ia ficando vazio, nosso roqueiro inconveniente se aproximava de nós. Agarrei meu amigo aniversariante e pedi para que ficasse conosco, na tentativa de espantar o xavequeiro. Minha tática não estava funcionando: o dito cujo se apoiou na parede olhando diretamente para nós, à espera do momento de dar o bote. O aniversariante afastou-se de nós. Eu gritei “não!”, mas ele ia em direção ao elemento. Olhou nos olhos do rapaz e, em uma questão de segundos ele foi embora.

-O que você disse?
-Que vocês duas eram um casal e não estavam gostando de ser incomodadas por um homem. Ele agradeceu pelo aviso e foi pagar a conta.