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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Câmara dos deputados aprova Ficha Limpa

Por Daniella Bittencourt Féder


Conseguir exercer nosso direito à democracia não deveria ser uma vitória, mas infelizmente é

A Ficha Limpa é um projeto de lei que prevê que políticos com débitos na justiça não possam concorrer às eleições. A lei já existe para concorrentes à cargos públicos, mas ainda não para o eleitorado. Permitir a um sujeito com processos ativos contra si que concorra a eleições para representar o país, na minha opinião, é só mais uma sujeira.
A petição Ficha Limpa teve uma mobilização online incrível, através do site www.avaaz.org. Qualquer movimento que pede mudanças sociais, políticas ou econômicas no país deveria ter uma movimentação real significante, e não virtual. Mas não posso deixar de ficar feliz pela Câmara dos Deputados ter aprovado a Ficha Limpa. Eu era só mais uma que não acreditava que o projeto não tinha apoio político o suficiente para passar pela Câmara, e fui positivamente surpreendida. Mas, calma lá, ainda tem chão pela frente: a Ficha Limpa fez as malas ontem para visitar o Senado e, se conseguir passar por lá também, segue para o poder presidencial.
A internet é uma ótima ferramenta para mobilização coletiva, e talvez deva ser usada mais frequentemente para o Brasil correr atrás da conquista real da democracia. É, os tempos são outros...

sábado, 17 de abril de 2010

40 propostas para o Brasil

Por Daniella Bittencourt Féder



A notícia se espalhou por redes de relacionamento e chats da internet, e quem tentou acessar hoje o site do PMDB, teve uma surpresa: a página foi invadida por um hacker (supostamente contratado) e redirecionou todos os acessos para o endereço www.freewebs.com/rockinriopardo/pmdb.html. No lugar de ofensas e demonstrações de descontentamento, que combinariam com a ousadia perigosa de invadir o domínio virtual de um partido político, o conteúdo que tomou o lugar do site foi um texto - no mínimo interessante - que apresenta "40 propostas para o Brasil". Confira:


EDUCAÇÃO

1 Choque de meritocracia na educação
Mérito é premiar com promoção e aumento de salário os professores que formam mais alunos capazes de atingir boa colocação em disputas acadêmicas internacionais. O conceito é desconhecido no Brasil. Aqui quase sempre o professor recebe aumento de salário por tempo de serviço. Na ausência de outros fatores e só com a aplicação de um choque de meritocracia, o desempenho dos alunos brasileiros em matemática ficaria entre os 43 melhores do mundo, ombreando com o de Israel e Itália, e não, como é agora, em 53º lugar, ao lado do Quirguistão.

2 Convencer os pais de que eles são parte da escola
Pais educam. Escolas ensinam. Esse provérbio caducou. As pesquisas mostram que, além de um bom professor, nada melhora mais o desempenho escolar do que o envolvimento dos pais no processo educacional. É uma guerra cultural que pode ser vencida com as armas certas: a internet (os pais podem até acompanhar algumas aulas) e os cursos para pais.

3 Ampliar a rede de ensino técnico superior
O ensino de geografia, ciências sociais e outras áreas de humanas conta pouco. O fator decisivo para o progresso material está no ensino da matemática, das engenharias e da física aplicada. Apenas 8% dos jovens brasileiros se formam em algum curso superior dessas áreas – contra 18% nos países avançados. A saída é popularizar as faculdades técnicas. Nelas, em dois anos, o jovem obtém um diploma de ensino superior e tem lugar garantido no mercado de trabalho. Foi um sucesso na Coréia do Sul, que, assim, colocou um diploma e um emprego nas mãos de 80% dos jovens.

4 Fomentar a competição entre as universidades
Nenhuma universidade brasileira figura entre as 100 melhores do mundo. Não é surpresa. Elas não têm incentivo para isso. As 100 melhores do mundo lutam para sê-lo para obter financiamento. Aqui, com ou sem desempenho, as verbas públicas chegam religiosamente. Melhorar para quê?

5 Financiar os melhores pesquisadores
Apenas duas de cada 1 000 patentes registradas no mundo são brasileiras. Falta incentivo. O pesquisador brasileiro que registra patentes ganha, em geral, a mesma verba de quem não registra nenhuma. A tendência mundial é dar mais aos pesquisadores que produzem mais conhecimento original e valioso.

6 Criar currículos obrigatórios para a educação básica
Um ponto em comum entre os dez países de maior sucesso educacional, social e material do mundo é a existência de um currículo obrigatório na educação básica. Sem um currículo com metas acadêmicas bem definidas, nenhum país progride. Na maior parte do Brasil, não há esse currículo.

7 Investir na formação dos professores e de quem forma os professores
A cadeia do ensino tradicional tem alunos, professores, diretores e pedagogos. Falta uma categoria: a dos profissionais que ensinam os professores como ensinar. Apenas 20% das disciplinas nas faculdades de pedagogia se dedicam às metodologias de ensino, mostra um estudo da revista Nova Escola Fundação Carlos Chagas.


AMBIENTE

8 Mais pesquisa ambiental no Brasil
Tanto a Amazônia como as áreas de proteção ambiental no Brasil recebem pouquíssimos pesquisadores. Apesar de ocupar cerca da metade do território nacional e ser o cenário da maior biodiversidade do planeta, a Amazônia concentra apenas 5% dos pesquisadores brasileiros. Significa que há um cientista para cada 4 000 quilômetros quadrados. Apenas 10% das espécies da região estão catalogadas. Só com conhecimento profundo dos biomas brasileiros será possível criar estratégias mais eficazes para a preservação daqueles tesouros naturais.

9 Dobrar o saneamento básico em dez anos
Menos de 50% dos domicílios brasileiros são ligados à rede de esgotos. Destes, apenas 35% recebem tratamento. O restante é despejado diretamente em rios, córregos e lagos. O Brasil ainda é africano nessa área. O ministro Carlos Minc estima que tratar 70% dos esgotos até 2018 custaria 12 bilhões de reais por ano. O custo é elevado? Não em vista dos benefícios. Entregar a tarefa à iniciativa privada, por meio de concessões, é uma saída.

10 Transformar pastos em áreas produtivas
O avanço da fronteira do boi e da soja derruba oito de cada dez árvores das florestas de clima da Amazônia. Para deter esse avanço é vital ocupar áreas já desmatadas. Cerca de 16 milhões de hectares de áreas de pasto estão abandonados na Amazônia. Com sua recuperação e uso, a produção de grãos pode crescer 30% na região sem exigir a derrubada de uma única árvore. Recuperar custa o dobro do que simplesmente desmatar. Subsidiar a recuperação de áreas degradadas é a abordagem econômica mais racional.

11 Premiar prefeituras pela preservação ambiental
A degradação ambiental tem maior impacto sobre a qualidade de vida dos habitantes das cidades do que para o morador de um grotão isolado na floresta. Por essa razão, iniciativas locais de preservação são mais impactantes. É exemplar o sucesso do programa ICMS Verde, adotado no Paraná para premiar municípios com desempenho acima da média no tratamento de lixo e na conservação de bacias hidrográficas. A área preservada no estado cresceu doze vezes nos últimos dez anos.

12 Unificar as leis ambientais
O Brasil tem mais de trinta leis ambientais federais. Combinadas às regras estaduais e municipais essas leis deixam apenas 30% do território livre para a ocupação econômica. Como não temos 70% do território ocupado por paraísos ecológicos, fica óbvio o exagero das restrições. O emaranhado legal provoca insegurança jurídica, dificulta a fiscalização e cria oportunidades para a corrupção. Leis mais simples são, sempre, mais eficientes.

13 Dar independência financeira aos parques ecológicos
Os 63 parques nacionais ocupam uma área de 24,1 milhões de hectares, o equivalente ao território do estado de São Paulo. Em comum, têm o fato de ser mal administrados – são apenas 348 funcionários para cuidar de todos. Eles falham na missão preservacionista e, quando abertos à visitação, oferecem serviços precários. São como os cofres públicos para os corruptos: uma riqueza a ser apropriada pelo mais esperto. Os Estados Unidos têm oitenta vezes mais visitas pagas em seus parques. É hora de valorizar os nossos, protegê-los e mantê-los com o dinheiro arrecadado dos visitantes.

14 Criar um plano nacional de zoneamento econômico-ecológico
O governo paga aventureiros para derrubar a floresta amazônica, dando-lhes crédito destinado à atividade agrícola. Isso não se faz por maldade, mas por ignorância sobre quais são as áreas aráveis do território nacional e quais são as preserváveis. Ninguém sabe ao certo onde começa uma e acaba a outra. Muitos debates gastam horas apontando a mesma área no mapa e enxergando nela solos diferentes. O zoneamento agroclimático é ferramenta vital para planejar o desenvolvimento sustentável.

15 Tornar mais vantajoso manter uma árvore de pé do que cortá-la
Dez milhões de moradores da Amazônia Legal dependem da atividade extrativista ou agropecuária. Para eles, discurso e consciência ecológica não funcionam. Eles precisam de medidas que tornem mais vantajoso preservar do que destruir. O governo da Costa Rica remunera proprietários que conservam as matas nativas em suas terras. Um estudo mostra que, em Mato Grosso, dar 1 000 reais ao ano por hectare preservado seria estímulo suficiente para conter a devastação. É quase de graça.

16 Investir em fontes renováveis de energia
Nos próximos dez anos o Brasil precisará acrescentar produção equivalente à de três usinas de Itaipu para suprir sua necessidade de energia elétrica. O sol e os ventos abundantes no país podem oferecer parte da solução. O potencial da produção de energia eólica é estimado em dez Itaipus. A incidência solar no Brasil é o dobro da registrada na Alemanha, um dos países que mais investem nessa fonte renovável de energia elétrica.

17 Não desperdiçar energia
Para cada dólar produzido pela economia, o Brasil precisa de 40% mais de energia do que os Estados Unidos e 70% mais do que a Alemanha. Isso se deve menos ao custo de geração do que ao desperdício. O Brasil perde 16,5% de toda a energia elétrica produzida. É quase uma Itaipu que se joga fora a cada ano. Para tornar mais eficiente o aproveitamento da energia, seria preciso investir em duas frentes: programas de conscientização dos consumidores e a busca de processos industriais e equipamentos mais econômicos.


ECONOMIA

18 Reforma da Previdência já
O custo da Previdência é um dos principais motivos pelos quais o Brasil lidera o ranking mundial de juros reais e tem uma carga tributária de 36% da riqueza produzida pelo país. Ele consome 12% do PIB. Nenhum país emergente consegue crescer de forma acelerada com tamanho peso nas costas. A China e o Chile gastam 3%. A Colômbia, apenas 1%. Se a despesa previdenciária brasileira fosse de 6%, o país economizaria 180 bilhões de reais ao ano. Com esse dinheiro, as pessoas e empresas pagariam 17% a menos de impostos, com melhoria de qualidade de vida para todos

19 Criar um teto para os gastos públicos
De todos os agentes econômicos, quem gasta pior é justamente aquele que não produz nenhuma riqueza: o governo. No Brasil, os gastos do governo federal crescem, em termos reais, duas vezes mais rápido do que a economia. Dentro de quinze anos os impostos vão equivaler à metade de toda a riqueza que o país produz. É ruinoso? Sim. Reversível? Só por força superior. O aumento real do gasto público brasileiro deveria ser limitado por emenda constitucional ao teto de 1% ao ano.

20 Um Banco Central independente
Se o Banco Central brasileiro tivesse a independência assegurada por lei, a taxa real de juros cairia imediatamente até 3 pontos porcentuais – de 7% para 4% ao ano. O crescimento do país saltaria dos atuais 5% para 7% ao ano. É preciso outra justificativa?

21 Aplicar a lei de responsabilidade fiscal ao governo federal
Essa lei revolucionou o controle das contas públicas. Com ela, os estados e municípios foram obrigados a reduzir sua necessidade de financiamento em 20% desde 2001. Imune a ela, a União fez o movimento inverso e aumentou seu déficit em 79% no mesmo período.

22 Modernizar as leis trabalhistas
Ao lado de Zimbábue e Zâmbia, o Brasil ocupa a 119ª posição no ranking mundial de adequação das leis trabalhistas. Por isso, metade dos brasileiros tem ocupação informal. Uma mudança radical que extirpasse os arcaísmos custosos e corporativistas incentivaria a contratação formal com conseqüências saneadoras na Previdência (mais gente contribuindo), positivas na carga fiscal (mais gente pagando menos) e redentoras para o ambiente de negócios.

23 Tornar as agências reguladoras menos vulneráveis ao loteamento político
A certeza do cumprimento de contratos é uma das condições definidoras de um país moderno, ao lado do direito de propriedade e do ambiente de negócios. E como garantir que os governos preservem seus contratos? O mecanismo clássico, adotado e aprovado nas melhores economias, são agências reguladoras equipadas e protegidas contra a ingerência política. No Brasil há agências reguladoras, mas elas estão longe de ser imunes às pressões políticas.

24 Garantir a concorrência na exploração do pré-sal
Desde o século XVI a humanidade sabe que os recursos naturais não levam, necessariamente, ao progresso econômico e social. Isso foi aprendido com sangue no ciclo de exploração da prata e do ouro na América Latina. Foi reafirmado pelos diamantes da África subsaariana e agora o petróleo da Venezuela. É a maneira de explorar esses recursos que produz conhecimento e bem-estar. Só se obtém riqueza efetiva quando os recursos naturais são explorados de forma transparente e competitiva.

25 Poupar os dólares do petróleo
A humanidade vai um dia encontrar um substituto para esse líquido escuro e pegajoso. Enquanto isso não ocorre, é crucial utilizar as reservas com sabedoria. Se todo o potencial dos depósitos de petróleo na chamada camada pré-sal do litoral brasileiro for confirmado, o Brasil pode vir a se transformar em um grande exportador de petróleo. O que fazer com os dólares obtidos? A opção mais racional é o depósito dos lucros do petróleo em um fundo externo, gastando-se apenas parte dos rendimentos. Isso preservaria a riqueza para as gerações futuras e impediria pressões cambiais e inflacionárias desestabilizadoras.

26 Privatizar a gestão hospitalar
Hospitais administrados pelo estado são menos eficientes e tratam pior seus pacientes. No estado de São Paulo, a taxa de mortalidade em hospitais geridos diretamente pelo governo é de 5,3 em cada 1 000 pacientes e o custo de cada internação é de 400 reais por dia. Em 25 hospitais terceirizados no mesmo estado, a taxa de mortalidade cai para 3,3 por 1 000 pacientes e o gasto por internação, para 360 reais. Essas e outras estatísticas a favor da privatização da gestão da saúde são absolutamente convincentes.

27 Privatizar a infra-estrutura
Não fosse pela infra-estrutura caótica, hoje majoritariamente nas mãos do governo, o Brasil poderia contar com 250 bilhões de reais a mais no PIB – um valor equivalente ao PIB do Chile.


LIBERDADE DE IMPRENSA

28 Acabar com a Lei de Imprensa
A Lei de Imprensa foi aprovada em 1967 – plena ditadura militar. Seu objetivo era intimidar jornalistas e meios de comunicação. Numa democracia, uma lei como essa não faz sentido. Há dispositivos suficientes na Constituição e nos códigos Civil e Penal para coibir abusos nos jornais e revistas. Mas seria recomendável a criação de uma lei sucinta para delimitar o valor das ações de direito de resposta e de dano moral. Isso daria segurança jurídica aos jornalistas e às empresas que mantêm um dos pilares da democracia: a liberdade de informação.


DEMOCRACIA, RAÇA E POBREZA

29 Profissionalizar a gestão pública
A palavra burocracia nasceu com sentido positivo: um estamento dedicado à organização ágil e racional. Com o tempo a burocracia passou a ser um fim em si mesma. O público que se dane. Em estados brasileiros como São Paulo, Minas Gerais e no Distrito Federal, a burocracia começa a retomar seu sentido original. Para isso foram adotados modelos empresariais, como a orientação para resultados, a flexibilidade e a recompensa do mérito. Quando a prática se espalhar e chegar a Brasília, será o caso de comemorar um novo descobrimento do Brasil.

30 Recriar o federalismo
Com a Constituição de 1988, o governo federal passou a concentrar a receita dos impostos, e com isso usurpou uma parte do poder de estados e municípios para decidir onde investir dinheiro. Reverter esse processo daria ao governo federal o papel de coordenador e aos estados e municípios maior autonomia para atender às necessidades dos cidadãos. Pois o fato é que ninguém vive nesse espaço abstrato chamado "União".

31 Fiscalizar os programas sociais
Uma pesquisa do iBase com brasileiros no Bolsa Família mostra que 64% dos próprios beneficiários excluiriam todos aqueles que se recusassem a cumprir as poucas exigências do programa – a mais importante delas é manter o filho na escola. O mesmo estudo revela que o governo é leniente e falha ao vigiar o cumprimento das exigências. Dar dinheiro é entregar o peixe. Cobrar a contrapartida é ensinar a pescar.

32 Inserir os pobres no mercado de trabalho
A melhor coisa que programas assistencialistas podem fazer por um miserável é transformá-lo num trabalhador capaz de prover as próprias necessidades. Dar qualificação profissional a quem nunca a teve, ou criar programas de microcrédito, que transformam excluídos em pequenos empreendedores, é mais que um paliativo. É uma cura real da pobreza.


MEGACIDADES

33 Eliminar as favelas da paisagem
Nas cidades do país, 12,3 milhões de pessoas vivem em casebres, a maioria deles em situação irregular. Se nada for feito, em 2020 haverá 55 milhões de favelados – praticamente uma Itália – no Brasil. É preciso revogar a negligência e o populismo que permitem o surgimento de favelas. No caso das já existentes, eliminar as que estão em área de risco ou proteção ambiental. Conferir títulos de propriedade é um primeiro passo para a urbanização dessas chagas das grandes cidades.

34 Superprefeitos para as regiões metropolitanas
Os prefeitos das cidades que fazem parte de uma região metropolitana são como condôminos que jamais se reúnem para discutir os problemas do prédio onde moram. São Paulo é um exemplo dramático. A prefeitura não consegue limpar o Tietê porque Guarulhos não tem rede de esgoto tratado e despeja imundície no rio. Um superprefeito seria como um síndico eficiente. Com perfil técnico, poderia coordenar o uso da água, o saneamento, o destino do lixo, a unificação do transporte entre cidades. Quem escolheria o superprefeito? O governador do estado.

35 Combater o tráfico de drogas com realismo
O tráfico de drogas é o principal responsável pela criminalidade no Brasil. No Rio de Janeiro, os barões da cocaína controlam 300 das 752 favelas. Não é possível extirpar a droga do cotidiano urbano, mas dá para diminuir as taxas de violência associadas a ela. Para tanto, urge eliminar o caráter territorial do tráfico brasileiro. É pelo controle de áreas geográficas, nas quais também exploram outros serviços tão lucrativos quanto ilegais, que os bandos se digladiam. Há mais cocaína em Nova York do que no Rio, mas lá os traficantes não têm feudos a defender ou tomar. Circulam para vender o seu único produto.

36 Planejar o crescimento
As cidades médias, com população entre 100 000 e 500 000 habitantes, são as que mais crescem no Brasil. Como resolver um problema urbano custa 100 vezes mais do que preveni-lo, é óbvio o ganho em se planejar a expansão dessas cidades. As prefeituras devem estabelecer regras férreas sobre o que pode ou não ser feito em termos de ocupação do solo, tendo em vista o futuro almejado para seus municípios.

37 Tirar a majestade do carro
No Primeiro Mundo, progresso é transporte coletivo de qualidade e restrição severa à circulação de carros, por meio de medidas como rodízio e pedágio. O Brasil está na contramão, porque suas cidades continuam a reduzir o espaço para pedestres, a ampliar as vias para automóveis particulares e a tratar o transporte público com descaso. São Paulo, onde já rodam mais de 6,1 milhões de carros, pode parar de vez em 2015.

38 Organizar o transporte coletivo
O Brasil é o lugar em que eufemismos viram solução de governo. É o caso do chamado transporte alternativo. A palavra correta é "ilegal". No Rio de Janeiro, a bandalha já superou os serviços regulares. Circulam na cidade 7 500 ônibus de empresas formais e 8 000 vans ilegais. Estabelecer um sistema integrado de transporte é a melhor forma de evitar a invasão de perueiros e assemelhados.

39 Conferir aos ônibus o padrão de metrô
Nos pontos de ônibus londrinos e parisienses há luminosos que informam em quanto tempo chegará o próximo carro de cada linha. A margem de erro é muito pequena, mesmo no horário do rush. É a prova de que o serviço de ônibus pode ser pontual, rápido e guardar intervalos curtos entre as partidas. Para seguirem o exemplo, as cidades brasileiras precisam criar corredores exclusivos.

40 Não se intimidar com os desafios
Quando se fala em problemas urbanos, surgem cifras que, não raro, paralisam as administrações e os cidadãos. Mas sempre é possível encontrar soluções baratas. Curitiba tornou-se referência de transporte público sem gastos excessivos. Também se deve levar em conta que parte dos custos embute a corrupção. São Paulo e Cidade do México começaram a construir metrô no mesmo período. A primeira conta, hoje, com 60 quilômetros de linhas. A segunda, com 200. O quilômetro escavado paulistano custa 500 milhões de reais. O mexicano, 90 milhões. E olhe que a Cidade do México enfrenta terremotos...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

França.Br 2009: c'est très chic!


2009 é o Ano da França no Brasil. De 21 de abril a 15 de novembro de 2009, o França.Br levará a inúmeras regiões brasileiras uma série de debates, palestras, seminários e atividades em geral sobre diversas áreas (como economia, tecnologia, engenharia, entre outras), além de atrações artísticas e culturais. O principal objetivo do França.Br é fortalecer a parceria entre os dois países, além de atualizar os brasileiros sobre as facetas da França contemporânea e ampliar as oportunidades de intercâmbio franco-brasileiro. O evento é também uma retribuição ao Ano do Brasil na França – Brésil Brésis, realizado em 2005, que obteve resultados surpreendentemente animadores: mobilizou mais de 15 milhões de pessoas, com centenas de atrações realizadas em todo o território francês que trouxeram impactos diretos no intercâmbio cultural e também nas trocas comerciais entre os dois países. Na ocasião, houve aumento de três vezes no volume de negócios entre França e Brasil (comparado ao ano anterior, 2004), o que correspondeu a cerca de US$ 450 milhões em produtos brasileiros importados pela França em 2005. Além disso, o governo francês registrou um crescimento de 27% no movimento de turistas franceses no Brasil e um crescimento de 20% nas matrículas nos cursos de português na França. Esperamos que o sucesso se repita no França.Br 2009!

Consulte a programação para a sua região clicando aqui.



Para quem mora em Curitiba, as atividades do França.Br nos próximos dias são as seguintes:

Artes plásticas: "Uma Aventura Moderna – Coleção de Arte Renault" (outro link aqui)
De 16/05 a 09/08 no Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999)

Cinema: "Projeto Cine Cult"
Minha Vida no Ar (Ma vie en l’air) de 22 a 28/05 e 8 Mulheres (8 Femmes)
de 29/05 a 04/06, no Cinemark Shopping Mueller (Av. Candido de Abreu, 127)

Fotografia: “A Renault de Doisneau"
De 23/04 a 14/06 na Casa Andrade Muricy (Rua Doutor Muricy, 915)


Fotografia: “Autocromos Lumière – O Tempo da Cor”
De 20/05 a 13/09 no Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999)

domingo, 18 de janeiro de 2009

NAO, o Novo Acordo Ortográfico

“Gosta de sentir a minha língua roçar, a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar, e quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias que encurtem dores, e furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa, da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior? E deixe os Portugais morrerem à míngua
'Minha pátria é minha língua'
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica, latim em pó
O que quer, o que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas e o falso inglês 'relax' dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda

(...)

Se você tem uma idéia incrível, é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
'Blitz' quer dizer corisco, Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria, e eu não tenho pátria, tenho mátria e quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica, ótica futura

(...)

E deixa que digam, que pensem, que falem
Língua, Caetano Veloso



O Novo Acordo Artográfico saiu do papel - ou melhor, entrou no papel - há 18 dias, passados 18 anos de sua elaboração. O Brasil foi o primeiro país entre os que integram a CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) a adotar oficialmente a nova grafia. Aproximadamente 0,45% do vocabulário brasileiro foi modificado. Nos demais países, que adotam a ortografia de Portugal (Angola, Timor-Leste, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, São Tomé e Príncipe), o percentual é de 1,6%. Veja abaixo quais são as mudanças no português brasileiro:


HÍFEN
Não se usa mais:
1. quando o segundo elemento começar com
"s" ou "r", devendo estas consoantes ser duplicadas como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: deve-se manter o hífen quando os prefixos terminam com "r" - ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-" - como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista";
2. quando o prefixo terminar em vogal e o segundo elemento começar com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada".

TREMA
Inutilizado, a não ser em nomes próprios e seus derivados.

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usa mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo "parar") de "para" (preposição);
2. "péla" (flexão do verbo "pelar") de "pela" (combinação da preposição com o artigo);
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo");
4. "pélo" (flexão do verbo "pelar"), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo);
5. "pêra" (substantivo), "péra" (substantivo arcaico) e "pera" (preposição arcaica).

ALFABETO
Passa a ter 26 letras ao incorporar "
k", "w" e "y".

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usa mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem";
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo", que se tornam "enjoo" e "voo".

ACENTO AGUDO
Não se usa mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia";
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca";
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como "averigúe" (averiguar), "apazigúe" (apaziguar) e "argúem" (arg(ü/u)ir) passam a ser grafadas "averigue", "apazigue", "arguem".



E no português lusitano:



USO DE MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS
  1. os meses do ano e os pontos cardeais devem ser escritos em minúsculas ("janeiro", "fevereiro" e "norte", "sul", etc.);
  2. pode-se usar maiúsculas ou minúsculas em títulos de livros, no entanto a primeira palavra será sempre maiúscula ("Insustentável Leveza do Ser" ou "Insustentável leveza do ser");
  3. também é permitida dupla grafia em expressões de tratamento ("Exmo. Sr." ou "exmo. sr."), em sítios públicos e edifícios ("Praça da República" ou "praça da república") e em nomes de disciplinas ou campos do saber ("História" ou "história", "Português" ou "português").

A SUPRESSÃO DE CONSOANTES MUDAS

Tal como o nome indica, leva ao desaparecimento de consoantes, em que o critério para tal é a sua pronúncia.

  1. cc - ex.: "transacionado", "lecionar". Mantém-se em "friccionar", "perfeccionismo" por se articular a consoante.
  2. - "ação", "ereção", "reação". Mantém-se em "fricção", "sucção".
  3. ct - "ato", "atual", "teto", "projeto". Mantém-se em "facto", "bactéria", "octogonal".
  4. pc - "percecionar", "anticoncecional". Mantém-se em "núpcias", "opcional".
  5. pt - "Egito", "batismo". Mantém-se em "inapto", "eucalipto".
  6. - "adoção", "conceção". Mantém-se em "corrupção", "opção".


Atualmente, mesmo sendo a quinta* língua mais falada no mundo, o português ainda não se tornou uma das línguas oficiais de órgãos internacionais como a ONU. Isso porque todos os documentos publicados em português têm que ser disponibilizados em duas vias: português brasileiro e português de Portugal.

Procurei relatos de brasileiros e portugueses acerca do tema. Selecionei alguns que, acredito, representam o quadro geral opinativo dos falantes do português sobre o NAO (que sigla sugestiva, huh?):

"Essa colaboração é de extrema importância se os países lusófonos quiserem que a Língua Portuguesa ganhe destaque mundial. (...) Essa é uma medida de política de idioma que, além de dar importância para a Língua Portuguesa, facilitaria a difusão e troca de publicações entre países lusófonos, favorecendo, inclusive, os países mais pobres no recebimento de reforço de material didático. (...) Essa reforma é de extrema importância porque é a primeira feita pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em conjunto, e não individualmente".
Stella Maris Bortoni-Ricardo, brasileira, lingüista e membro da Comissão de Língua Portuguesa (COLIP)

"(...) O que me parece é que existe algo mesquinho e egoísta que não deixa perceber que não se trata de uma briga pela legitimidade linguística, estamos nos adaptando necessidades de sobrevivência do mundo atual. O que somos nós, lusófonos, comparados às potencias anglossaxã e hispânica? Talvez juntos passemos a ser mais do que sozinhos…"

Gustavo Saporetti, brasileiro


"(...) O que se pretende com essa reforma, é caminhar no sentido de uma necessária unificação da forma escrita. Observações xenófobas ou pseudo patrióticas, bem como alguns quererem se apropriar do idioma (vale para alguns brasileiros e portugueses), sejam quais forem as razões, só tendem a fazer naufragar o pequeno avanço que a comunidade usuária da língua poderá dar com a implementação do acordo. (...) A constatação que faço como usuário da língua, é que a reforma é necessária, a despeito de a julgar muito tímida com vistas a pretendida unificação. Ou melhoramos e avançamos nesse processo, ou num futuro não muito distante efetivamente o português do Brasil nada mais terá em comum com o de Portugal. (...)"

Osni Boeing, brasileiro


"A reforma ortográfica vai ampliar a cooperação internacional entre os países de língua portuguesa ao estabelecer uma grafia única do idioma. A medida deve facilitar o processo de intercâmbio cultural e científico entre os países onde a língua portuguesa é falada, além de ampliar a divulgação do idioma e da literatura. Esses tipos de mudanças são importantes pois ajudam a manter a atualidade dos idiomas que se prezam, pois a língua vive um constante processo de evolução. (...) O que eu não concordo é o fato de Portugal sofrer mais mudanças nesse acordo do que o Brasil. No meu ponto de vista o Brasil deveria se adequar ao português de Portugal. (...)"

Jarrah, brasileiro


"Com os professores brasileiros nas condições em que estão - mal pagos, mal formados -, essa mudança pode gerar alguma dificuldade de adaptação. (...) Essa mudança vai fazer muito pouca diferença na facilidade de comunicação entre países."

Eleonora Cavalcante Albano, brasileira, professora da Unicamp


"Do ponto de vista lingüístico e da educação, a preocupação com a unificação de regras gramaticais é uma bobagem absoluta. O valor dessa mudança é muito mais simbólico que prático. Na prática, não são necessárias leis que normatizem a gramática e a ortografia. (...) Variações de ortografia mudam muito pouco a compreensão de um texto, escrever diferente não é um problema lingüístico em nenhum país."

Sírio Possenti, brasileiro, professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp


"Do ponto de vista político, essa é uma má política lingüística. É importante respeitar as diferenças no modo como as pessoas falam."

Maria Irma Hadler Coudry, brasileira, professora de lingüística da Unicamp


"(...) Eu, por exemplo, já disse que deixo de ser portuguesa se for para mudar a minha língua desta maneira. Eles fizeram perder o pouco respeito que tinha por Portugal ao mutilar a nossa língua milenar com este acordo. Era mais digno passarmos a ser uma colónia do Brasil e obrigarem-nos a aceitar a variante deles. (...) Uma coisa é certa, eu recuso-me a modificar a minha escrita. A minha grafia é portuguesa e não pseudo-brasileira e não há nada neste mundo que vai mudar a minha opinião acerca deste assunto. (...) Que vergonha. (...)"

Carina, portuguesa


" (...) A raivice dos brasileiros em relação às pessoas anti-aborto-ortográfico prende-se com o simples complexo de superioridade que julgam ter, pelas dimensões do país, e pelo maior número de habitantes! Nada mais infundado! (...) O que ressalta desta temática aparvalhada é um conjunto de textos que entrarão para os anais da história da trapalhice brasileira, (...) A ser verdade que a língua precisa de uma estruturação e uma verdadeira actualização, seria importante rever o capítulo da acentuação. Esta assim, seria uma reforma plausível, desejada pela maioria, e de certeza muito bem recebida nos meios académicos. (...) Podem querer oferecer-nos samba, mas que fiquem lá com a música, que dançar já nós sabemos há muito. (...) O povo é que é dono da língua, a este é que cabe a missão de mudar o que melhor lhe convier, e se pensarmos bem, da sã convivência entre todos, Portugueses, Brasileiros e Africanos, talvez não houvesse estúpidos acordos ortográficos, como acontece no Inglês, (...) e continuarei a defender que quem tem de mandar na Língua é Portugal, terão de acontecer em igual percentagem, e não uns mais que outros. (...)"

Mário Franco, português


"(...) Mas os portugueses não devem de forma alguma culpar o Brasil e/ou os brasileiros pelas mudanças. É uma injustiça mudarem mais o português de Portugal que o brasileiro? Com certeza. Eu particularmente também não quero escrever lingüiça sem trema; sou veementemente contra a mudança. (...)"

Tiago, brasileiro


"(...) Sujeito passa 5 anos na faculdade para aprender uma cacetada de regras gramaticais, sendo que boa parte delas nunca vai usar, daí quando acha que tá fera vem uma reforma dessas... (...) Agora, você deve estar pensando: "-Mas isso é para tentar unificar as línguas faladas nos diversos países que tem a língua portuguesa como a principal", caramba, você anda lendo muita coisa que não presta. Primeiro, que países são esses? Só tem Brasil e Portugal! O resto é microscópico como Macau ou Timor Leste, ou sem qualquer expressão mundial como Angola e Moçambique. (...) Então para que diabos serve essa unificação? (...) O que muda é apenas uma perfumaria qualquer, só o suficiente para encher nossa paciência, nada mais. (...) Pois eu vos digo, escreve-se errado porque se fala errado. Fala-se errado porque as regras gramaticais são ridículas, tanto quanto essa pseudo reforma. (...) Porque diabos CASA é com S e não com Z? Alguém rapidamente deve ter lembrado da famosa(e estúpida) regra que determina que entre duas vogais S tem som de Z. Certo, mas porquê? Sabe dizer? Agora a porca torce o rabo não? Eu por acaso entre duas mulheres viro gay? No way! (...) Se tem som de Z, então É COM Z! Daí camarada escreve CAZA e galera dá risada, se achando... (...) Quer realmente fazer uma reforma ortográfica revolucionária e que faça o povo aprender rápido sem a necessidade de 200 anos estudando regras idiotas? Simplifica! Vai pelo óbvio! (...)"

Sílvio Teixeira, brasileiro


Pessoalmente - e no direito de opinar sobre o assunto como qualquer falante da língua portuguesa -, gostaria de lembrar a todos, favoráveis ou não ao NAO, que a língua é propriedade dos que a usam. Todos os falantes são donos de suas respectivas línguas. Eles a utilizam, criam, recriam e modificam de acordo com suas necessidades expressivas, que variam naturalmente com o tempo e de mãos dadas com as mudanças geográficas, culturais, políticas e sociais como um todo. Ninguém é mais dono do que o outro, independentemente de (pseudo) justificativas históricas, territoriais, de número de habitantes ou o que for. E justamente porque a língua vive em processo de evolução - esse processo sendo diferente e independente em cada país - que é impossível contê-la ou tentar administrá-la, seja pela escrita ou por qualquer outro meio. Lembro a todos também que a escrita nasceu da fala e, por favor!, não forcem o processo contrário. Se a língua precisa ser "atualizada", que seja conforme as reais necessidades de cada país, e não num acordo desrespeitoso à etimologia das palavras em questão e que força, de modo indiscutivelmente não-natural, 9 países com duas grafias distintas a renderem-se a uma escrita que lhes é estranha e, para muitos, desagradável.

A língua portuguesa tem seus primeiros registros datados por volta do século IX. Já tive contato com registros antiqüíssimos do português - do século XIV: quem estiver interessado, o prólogo do livro com os registros que li se encontra aqui - e fui capaz de entendê-los, mesmo que com dificuldade. Portanto, friso que se um dia a língua portuguesa de um país tornar-se irreconhecível para os de outro, tal processo demorará séculos.

Ilustro com um exemplo: os EUA e Inglaterra e a língua inglesa (já que são países conhecidos e uma língua bem popular no Brasil). Praticamente não há padrão de pronúncia e não existe qualquer acordo ortográfico entre os dois países. A língua inglesa dos EUA e da Inglaterra são "iguais em sua essência": eles não precisam de qualquer tipo de acordo. O que faz a língua inglesa, então, a mais difundida no mundo? Bem, a língua é umbilicalmente ligada à cultura - e vice-versa. O que ocorreu no caso da Inglaterra e dos EUA foi o proliferação de sua cultura, desde o século XVII até os dias de hoje, e, junto com ela, naturalmente, sua língua. Alguns que defendem o NAO justificam que o acordo força o contrário: "fortalecer" a língua portuguesa para semear nossa cultura pelo mundo.

A verdade é que o NAO é um acordo bastante despendedor (já pensaram, por exemplo, que os dicionários que vocês têm em casa tornaram-se obsoletos?) e essencialmente político. É o que pode-se concluir a partir de sua implantação autoritária - sem consulta a lingüistas e nem mesmo ao povo, sem qualquer estudo acerca do impacto de suas alterações - e a partir do modo como incontáveis portugueses reagiram: ofensas e críticas fundadas em um patriotismo exagerado, uma revolta que segundo alguns era mais "legítima" do que a dos brasileiros contrários ao NAO. Pois digo e repito que a nossa revolta é tão "legítima" quanto a deles, dos africanos e dos asiáticos. Se, por um lado, a revolta portuguesa é fundamentada na quantidade de palavras cujas escritas foram modificadas (relembrando: 1,6% para eles e 0,45% para nós), por outro a reforma afetará um número muito maior de brasileiros do que de portugueses. Esses incontáveis portugueses opinam em cima do salto, superiores, donos de algo que não pertence somente a eles. E pior: como se nos culpassem pelo acordo.

Dentre algumas soluções apontadas, devo ressaltar que sugerir outro acordo ortográfico, como um de mudanças ainda mais radicais e que mexem na estrutura profunda e etimológica da língua - como tentar aproximar a escrita da fala - é insano. E os sotaques? E as diferenças regionais de pronúncia (não só a de um país para outro, mas mesmo de uma capital para uma cidade do interior)? É praticamente transformar o alfabeto fonético no padrão! Também acrescento que nenhuma regra gramatical ou ortográfica é inútil. Se não é para um, tenha certeza de que é para outro. E, ainda, esclareço que a expressão mundial individual política dos países da CLPL não está em jogo, e sim a relevância da língua portuguesa para os países integrantes e em comparação com outras línguas do mundo.

A dificuldade de adaptação será grande, especialmente devido à negação de muitos falantes - brasileiros e especialmente portugueses -, que se recusam a adotar a nova grafia. É o que estou fazendo, mas só até a birra passar. Para os já conformados, fica a dica: guia prático da nova ortografia.

*Encontrei divergências sobre esse número. Algumas fontes dizem que a língua portuguesa é a quinta mais falada no mundo e, outras, a sétima.


Fontes:

  1. Folha Online - Educação - Nova ortografia da língua portuguesa entra em vigor em 2009
  2. Folha Online - Educação - O que muda com a reforma da língua portuguesa
  3. Folha Online - Educação - Reforma ortográfica visa difundir o idioma
  4. Estadao.com.br - Acordo ortográfico divide opiniões de especialistas
  5. Gazeta Online - Novo acordo ortográfico ainda divide opiniões
  6. Tudo sobre o novo acordo ortográfico
  7. Tópico em off na comunidade EGM Brasil no Orkut sobre o NAO

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

McCain gets BarackRoll'd!

Impressionante como acompanhei aflita o resultado das eleições americanas ontem. Fiquei aqui até às 4 da manhã, de dedos cruzados e vibrando pelo candidato do partido democrata, Barack Obama (tanto quanto sábado pelo Massa durante a Fórmula 1, tá? Humph!).

Confesso que não entendo nada sobre o processo eleitoral americano, que é um tanto confuso. Mas entendi o suficiente: o candidato que alcançasse 270 votos no Colégio Eleitoral, composto por 538 delegados, seria eleito. A competição começou bem acirrada, com McCain tomando liderança logo em seguida. Depois, não me lembro de tê-lo visto com mais votos do que Obama.

Sinceramente, acreditei que o resultado fosse ser menos óbvio. 338 x 153, até agora (alguns estados, aparentemente, ainda não apuraram todos os votos). Estava preocupada que, mesmo com seu carisma cativante, apoio de ídolos americanos como Oprah Winfrey e propostas desafiadoras, Obama perdesse para o histórico de McCain. Pra quem não sabe, McCain é veterano da guerra do Vietnã, durante a qual, enquanto piloto, escapou da morte após um míssel disparado por acidente que atingiu seu avião. O incêndio causou a morte de 134 pessoas. Três meses depois do acontecido, teve seu avião abatido e foi capturado. Sobreviveu mais de cinco anos como prisioneiro, mas ficou com limitações de movimento em um braço. Quantos ele não conquistou com essa história de vida?

Defender o reforço da força norte-americana no Iraque despertou o desprezo de grande parte dos eleitores americanos, imagino. E outras coisas, como ser a favor da emenda constitucional que define o casamento como a união entre homem e mulher (no gays, please) e ter aquela vice... er... bonita e não-tradional DEMAIS devem ter desfavorecido McCain (imaginem: McCain tem 72 anos. Caso ele morresse, ia assumir a Sarah Pelin, sem tradição política alguma? Assim não, né). Enfim, não pretendo chegar à uma conclusão sobre o(s) motivo(s) pelo(s) qual(is) McCain perdeu, mas gostaria de entender essa diferença tamanha de votos. Sou eu ou vocês também acreditaram que seria mais disputado?

Cheers for Obama!