Por Daniella Bittencourt Féder
Há alguns anos eu e meus vizinhos dividíamos o bairro com gatos. Eu, particularmente, adorava! Cheguei a adotar alguns que, por adoração à rua e aos telhados ou talvez por simples instinto felino, não me aceitaram como dona. Mas eram todos muito bem cuidados e respeitados - por mim e boa parte da vizinhança. Eram.
Gatos podem se mostrar muito independentes quando não domesticados: não precisam de ninguém que lhes dê carinho, comida e uma caixinha de areia. E a prova disso está começando a aparecer por aqui.
Para explicar, preciso contar um caso que não aconteceu com o amigo de um amigo meu. Eu deveria ter lá os meus 14 anos quando naquela madrugada voltava, de carona com o irmão da amiga que me acompanhava, de uma das minhas primeiras "baladas". Era uma festa de halloween - lembro-me bem de estar vestida mais à caráter do que pedia a ocasião, e queria chegar logo em casa para contar cada detalhe de minha excitante noitada à minha mãe, que deveria estar me esperando - impaciente, imagino. À medida em que o automóvel subia a ladeira e se aproximava do meu portão - numa velocidade tranquila demais para competir com minha ansiedade - eu me preparava para descer: conferia celular, identidade e maquiagens escuras dentro da bolsa e vestia meu agasalho - uma tenebrosa capa preta. Ao estacionarmos, senti meu coração pular num sentimento repentino, afobado e cauteloso. E, infelizmente, não era a emoção de chegar da minha primeira saída sem a companhia de um adulto ou uma prima mais velha: lá estava o meu gatinho, François, estirado no gramado de recepção da minha garagem, com algo que parecia uma mistura de vômito com sangue escorrendo de sua pequena boquinha aberta e de seus ouvidos. Angustiadamente, reprimi qualquer reação (nada faria sem o veredito da mamãe, bem como não me deixaria deseqüilibrar na presença de terceiros). Movida pelo medo da dor da perda, fiz-me acreditar que François apenas dormia após um passeio de "evacuação" e, movido pela indigestão de alguma comida que não deveríamos ter-lhe dado, sofreu de um trivial mal-estar. Mas não. Estava morto.
Naquela noite eu chorei, seguindo acordada por mais várias longas horas nas quais relembrava de momentos agradáveis - e também engraçadamente desagradáveis - com meu bichinho. Mamãe se sentiu culpada: disse que o havia soltado para que entrasse comigo quando eu chegasse; mas serviu-me um chazinho calmante que foi o meu "nana neném".
Não quis acordar no dia seguinte. Acho que bloqueei minha fome para não ter que descer e dar a notícia para meu irmão mais novo e o papai. Também não queria pensar que o "cadáver" ainda poderia estar esperando por uma última lágrima minha, ali no gramado da frente de casa. Descobrimos que François fora envenenado.
Alguns meses (e muitos envenenamentos de gatinhos) depois, era raro ver quatro patinhas silenciosas caminhando pelas ruas. Nem mesmo os "points felinos" (lugares onde era fácil encontrá-los para brincar) eram mais freqüentados. E hoje, então, estão às moscas. Literalmente.
Nesta segunda-feira (dia 03), eu voltava da faculdade com meu namorado quando vimos, na quadra de baixo da qual eu moro, uma cena digna de um documentário sobre o reino animal: um gavião devorando o corpo, então mutilado, de um cachorro. Ficou a dúvida de se o pássaro, de espécime não muito comum aqui na região, havia o caçado sozinho (uau!) ou não. Nos aproximamos do "acontecimento" e surpreendi-me: o "cachorro" era, na verdade, um rato (ou ratazana, sabe Deus) do tamanho de um teclado de computador!
Agora temos roedores tamanho família na vizinhança, e onde estão os gatos para comê-los? É lógico que não há mais gatos, caso contrário não haveria ratos.
É certo que, na época dos envenenamentos, cada qual guardava suas suspeitas de quem era o "serial killer de felinos", mas de que adianta isso agora? Bom, vai ver o sujeito goste muito de roedores. MAS POR QUÊ LOGO RATOS? Eu tenho um chinchila! E também existem porquinhos-da-índia, furões, hamsters... !
Eu, particularmente, recuso-me a oferecer pãozinho com leite (ou queijo) aos ratos que se enfiarem em meu quintal.
Eu, particularmente, recuso-me a oferecer pãozinho com leite (ou queijo) aos ratos que se enfiarem em meu quintal.
4 comentários:
Novo filme do momento - Big Rats at Curitiba ahuiha éé, vou levar as baratas gigante daqui pra lutar contra eles, há!
eu não posso mais sair de casa, corro o risco de morrer envenenado! preciso me mudar do bom retiro urgente =| (medo)
Acho que deveríamos envenenar os seus vizinhos, Dani. Mas é bom, assim eles aprendem!
Os gatos despertam a inveja dessas pessoas por serem livres, misteriosos, andarem por aí, de casa em casa, sem dar satisfações...
Acho que esses envenenadores se identificam mais com os ratos mesmo.
p.s.: Aqui em São Paulo eu tive que doar 3 gatos pelo bem deles, depois que envenenaram 2 de seus irmãos, inocentes andarilhos noturnos.
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