Por Daniella Bittencourt Féder
Desde o ano passado a equipe do cientista inglês J. Craig Venter tem deixado os meios de comunicação a par de cada passo de um experimento revolucionário: a criação de uma forma de vida sintética. No mês passado, a revista Science anunciou o sucesso da operação. As informações genéticas de uma bactéria foram copiadas, transferidas para o corpo de uma célula sem DNA e modificadas, para que não houvesse rejeição (as bactérias possuem um sistema imunológico que funciona como um antivírus, bloqueando qualquer material genético desconhecido). Em seguida, esse genoma modificado foi implantado em outra bactéria. O resultado foi, literalmente, a criação da vida. A nova bactéria passou a normalmente funcionar e se multiplicar. Conforme publicação no Estadão.com.br, parafraseando o próprio Venter, “é a primeira espécie autorreplicante no planeta cujo pai é um programa de computador”.
Tudo isso pode ser empolgante para a ciência. Na mais extrema das hipóteses, organismos inteiros podem criados. Mas também, a partir desse estudo, bactérias benéficas podem ser desenvolvidas – capazes de digerir o óleo ou de impurezas da água, por exemplo. Dando vida a uma linhagem de quaisquer delas, sempre há o risco de se perder as rédeas da situação, como aconteceu com os alimentos e plantas geneticamente modificados (os transgênicos), que provocam na saúde humana e no meioambiente impactos que sequer foram possíveis de ser calculados. Em outro exemplo, relatos platônicos e outros mais contam que a perdida Atlântida abrigava um povo curiosamente capaz de praticar tentames genéticos, misturando espécies. A lenda do Minotauro pode não ser tão fantasiosa como se pensa. É como se faz hoje em dia com cães; o pit-bull e o dobermann foram criados por meio de cruzamentos com outras raças.
Mas todo esse conhecimento pode se transmutar numa artilharia perigosa. O que aconteceria se uma arma biológica desse nível, com tamanha capacidade de reprodução, fosse solta por aí? Não estou usando o polêmico artifício das teorias conspiratórias, mas sim fazendo referência a um risco que, desde que se anunciou a criação da vida, é perigosamente possível. Os “donos da vida”, Venter e sua equipe, certamente não são dotados de tais cruéis intenções. Mas, em algum momento, devem ter se dado conta das possibilidades do experimento. Brincar de Deus é, no mínimo, uma ousadia muito arriscada.
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