sábado, 5 de novembro de 2011

Cidades

Glauber Frota


Já ouvi dizer que em Curitiba só tem doidos. É uma espécie de São Paulo pacata: tudo aparenta ser normal, mas quando você diz um “oi” para alguém, já desconfiam. É tudo bonitinho, limpo e arrumado, mas na verdade... É tudo uma loucura. Curitiba é diferente de Brasília. Sabe o que é um curral? Imagine Brasília. Um curral. Dizem que aqui é ruim para morar. É nada, é bom. O ruim é só mesmo o tempo de calor. Mas não gosto da vizinhança, pelo menos não da minha. São analfabetos desdentados, pivetes e traficantes. Alguns até fingidos de trabalhadores. Nas ruas, os carros com som desregulado. Você não ouve o que a pessoa está escutando, mas sim aqueles estrondos. E as pessoas gostam de mostrar umas às outras o quanto são politicamente corretas. Logo em Brasília!


Foto: www.recordrio.com.br

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Por que escrever corretamente

Daniella Féder




Ainda há quem diga que na internet não há regras. Refiro-me às regras gramaticais. Ao bom uso da língua portuguesa. Certo dia, fui surpreendida pelo comentário de um anônimo no meu Facebook. Ele me pedia que votasse em uma foto para ajudá-lo a vencer alguma promoção. E o fez em um péssimo português.


"...Então eu podia estar roubando, traficando, matando me prostituindo hihi mais estou aqui ti pedindo apenas um voto um "curti" curti minha foto ai e me ajudem a ganhar essa promoção o/ da essa forcinha , Ajuda eu !? :("


Educadamente, ofertei ao rapaz uma outra opção: ele poderia estar estudando a língua portuguesa, por que não? A resposta não me surpreendeu.


"num sabia que tinha regra pra escrever em rede social , e mesmo assim escrevo do jeito q eu achar melhor aqui ... até pq isso aqui não me ajuda em nada"


O rapaz tem todo o direito de escrever como bem entender, é claro - direito garantido constitucionalmente. Mas ele está correto em um outro ponto: as regras não foram feitas para escrever nas redes sociais. Elas foram feitas para escrever a língua portuguesa. Para garantir um padrão que acarrete na boa compreensão de todos.

Hoje em dia há tantas variações das palavras e construções de frases, que me arrisco a dizer que a internet gerou uma multiplicidade de idiomas. Mutações da língua portuguesa que tomaram forma com a adesão de pessoas que viram, no poder da livre-escrita, uma zona de respiro para fugir das normas.

Quem nunca se deparou com disfuncionalidades de tamanho, como: oI, CoMo VaI vOcÊ? Ou ainda, letras e sílabas trocadas por outras que possuem sonoridade semelhante: Eu txi amu, voxê ker sair cumigu hojy?

O problema é que toda essa liberdade estas zonas de respiro abriram espaço para a negação do conhecimento. "Eu não preciso conhecer a fundo a língua portuguesa, pois não sou formado em letras. Se você entende o que estou dizendo, por que tenho que aprender a escrever corretamente?"

Eu respondo: para não cometer gafes do tipo "voçê" - eu me deparei com esta grafia visitando o mural de recados de uma rede social de um amigo meu. Ele é professor de história e recebia um lindo comentário de um aluno. Bem... Não tão lindo assim.

Se você quer quebrar as regras e fazer uso de neologismos ou de uma linguagem inovadora, é recomendável que, primeiro, entenda as regras gramaticais. Picasso não ousou inventar o cubismo, uma expressão artística inovadora, moderna e, à época, extremamente revolucionária, sem antes conhecer as técnicas que o precederam, o clássico.



Redes sociais X entrevista de emprego


O rapaz que se diz que as redes sociais não o ajudam em nada deve andar bastante desinformado. Hoje em dia muitas empresas e instituições utilizam as redes quesito importante no processo de seleção de um candidato. Isso quando os Recursos Humanos não se antecipam e dão aquela "fuçadinha" nos perfis dele.

É preciso pensar duas vezes antes de entrar em grupos que tenham temáticas como "Eu odeio meu chefe". Já pensou se você perde a vaga de emprego da sua vida porque o RH tem preferência por candidatos que mantenham bons relacionamentos com os demais funcionários? Pode parecer brincadeira, mas hoje em dia isso tem acontecido bastante.



Pratique


Minha dica - se é que me cabe o posto - é simples: exercitar a língua portuguesa o máximo possível. É mais fácil do que parece. Há meio mais apropriado para isso do que a internet? Passamos boa parte do nosso tempo conversando com amigos, enviando recados ou comentando em blogs. Escrevemos nas redes sociais o tempo todo! E, se surgir aquela dúvida, é só dar um Google. É tudo tão rapidinho! E convenhamos que é muito legal saber escrever corretamente. Não é?

Fotos: Google Imagens.


*****


Deixe sua opinião nos comentários! Você concorda que a língua portuguesa deve ser respeitada na internet ou cada um deve escrever como bem entende?
Já foi pego de surpresa, em uma entrevista de emprego, com uma pergunta que dizia respeito às suas redes sociais?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ajude quem passa frio


Esta pode ser a madrugada mais fria do ano em Curitiba.

Tenho escutado nas rádios notícias de moradores de rua que morrem de hipotermia. Você já pensou como deve ser passar tanto frio que o corpo não resiste?

Se você vir algum morador de rua, ajude-o. Seja humano. Ligue para a Fundação de Ação Social (FAS): (41) 3350-3500. Eles têm a função de levar os moradores de rua a abrigos, para que sejam acolhidos. Não podem forçá-los a aceitar a ajuda, mas oferece a opção.

O frio mata. Você pode salvar uma vida.


Vocês devem ter lido publicações semelhantes no Facebook, sobre serviços de diversas cidades do país. Tomei a liberdade de editar uma delas e publicar aqui, para que não se perca.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Crochê

Júlia Picanço


Vale a pena ver o vídeo abaixo. Nele a designer de moda brasileira Helen Rodel conta sobre o dia-a-dia do seu trabalho e revela como funciona o processo criativo no desenvolvimento da coleção.

O diferencial de Helen é o material utilizado na confecção: o crochê.

As peças que são mostradas no vídeo compuseram, mais tarde, um desfile no São Paulo Fashion Week.



Documentário Helen Rödel - Estudos MMXI (english subtitles) from Helen Rödel on Vimeo.


É a moda atual se criando a partir de técnicas manuais muito antigas.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Domingo não é dia de descanso

Daniella Féder


Vizinha do Cemitério Municipal, a Praça do Gaúcho reúne amigos aos domingos, em mesas de bar.


Os domingos na Praça do Gaúcho, em Curitiba, não são nada monótonos. O local é agitado ponto de encontro de diferentes grupos de jovens, que interagem entre si. Grande parte deles, ótimos bebedores. De carteirinha.

O domingo em que foi feita esta reportagem era o primeiro dia de inverno do ano, 21 de junho. Contrariando o calendário das estações (como é de praxe em Curitiba), era uma tarde bonita e ensolarada. Mesmo que ainda tímido, o frio estava lá, mas era fácil de ser contornado com um agasalho e uma calça comprida – ou algumas doses alcoólicas.

A Praça do Gaúcho estava cheia. Quem fosse até lá de carro encontraria dificuldades para estacionar, pois as ruas do entorno não davam conta de oferecer vagas a todos os visitantes. Alguns motoristas pararam os veículos nas esquinas ou muito próximos às guias rebaixadas, contrariando as leis do Código de Trânsito Brasileiro. Certamente foi um dia bastante lucrativo para o único estacionamento próximo.

Se o carro não é o veículo escolhido, há outra opção para se chegar lá: utilizar o sistema de transporte público. A região é favorável. O bairro São Francisco, vizinho do Centro Cívico e do Centro Histórico da cidade – todas regiões animadas, sobretudo no que diz respeito à vida noturna -, a Praça é caminho de muitas linhas de ônibus que passam por lá e partem para os demais bairros da cidade. Só ela contém três pontos de parada, fora os que desembarcam no Cemitério Municipal, bem em frente, ou em outros nada distantes dali.


O ápice do movimento, aos domingos, acontece por volta das 16 horas.


A sinuosa e desnivelada pista de skate, centro da praça e das atenções, é favorável tanto à prática do skate quanto às de patins, rollers, bicicletas e outros equipamentos sobre rodas. Mas a prancha é a favorita.

Por cima das curvas todas grafitada em tons vibrantes - assim como alguns muros da região - pessoas de todas as idades exibem suas habilidades, inclusive crianças muito talentosas nas manobras giratórias.


O skate é para todas as idades.


Ao lado de uma das escadas de acesso à pista há uma placa com os exatos dizeres: “Nova pista de skate da Praça do Redentor. O cimento original, de 1974, foi trocado por granitina, conforme sugestão dos esportistas da primeira praça pública de skate da cidade e a segunda do Brasil. De tão forte a presença dos praticantes, a Praça do Redentor é mais conhecida pelo nome popular: Praça do Skate. Ou, para os mais antigos, Praça do Gaúcho dos Sorvetes”.

Praça do Redentor é o nome formal, e quase desconhecido. Embora a placa seja relativamente recente, datada com o ano 2004, os apelidos comuns são Praça do Gaúcho ou somente Gaúcho. Ambos se popularizaram devido à tradicional sorveteria Sorvetes Gaúcho, que existe ali desde meados da década de 50 (mais precisamente, 1955). Os atuais proprietários, três filhos do casal que fundou o estabelecimento, relevam que a sorveteria está lá desde muito antes da pista de skate ser construída.


A pista já teve diversos grafismos, de pichações amadoras a grafittis elaborados. A estética atual é bem colorida.


A quantidade de bancos existentes na praça não dá conta da demanda: são apenas dois. Quando há muita gente, como naquele dia, o calçadão de paralelepípedo fica tomado pelas mesas e cadeiras dos bares dali. A solução para quem chega tarde é ficar circulando com a bebida nas mãos ou se sentar nas beiradas da pista de skate. Ficar sem lugar para sentar não arrefece o ânimo de ninguém. Afinal, o que os frequentadores buscam é o encontro com a galera, as conversas descontraídas, a paquera e passar o tempo distraidamente e bebendo.

Durante o verão, a cerveja é a favorita. Mas com a chegada do inverno, alguns dos copos vão pouco a pouco deixando a cor amarela da loira gelada de lado para, gradualmente, dar lugar aos destilados, vinhos baratos e quentões, tudo que possa oferecer algum calor. Alguns chegam a trazer suas próprias bebidas, como algumas misturas mais “turbinadas”, como os “tubões”, uma mescla de vodka, rum ou cachaça com qualquer refrigerante. A maioria, porém, compra por ali mesmo, em um dos bares da redondeza. Quanto mais álcool é consumido, mais alegre e descontraído fica o ambiente.


Uma banca de revistas que havia ali hoje leva o nome de Bar da Banca. O motivo: muita gente só entrava ali para comprar bebidas, até que a função mudou de banca de revistas para bar.


O estudante de arquitetura Guilherme Yamamoto, 22, mora com a mãe num apartamento que fica a duas quadras da praça. Ele é frequentador assíduo e amigo de boa parte do pessoal que está sempre por ali. “Curitiba não tem praia, mas tem Gaúcho”, brinca Yamamoto.

Para ir à praça, ele não precisa marcar hora com ninguém. Sempre encontra conhecidos por lá. “Alguns são amigos que fiz anos atrás, e ainda andam de skate comigo” conta o futuro arquiteto, sentado a uma mesa com algumas garotas, estudantes de Direito.

Chega a noite e o movimento começa a cair, mas há sempre os retardatários, aqueles que gostam de ficar até o finalzinho da festa. Um dos rapazes recostados na mureta da pista comenta: “aos domingos a gente só vem aqui pelo agito. São os dias mais cheios, porque vem o pessoal de fora”, ou seja, não são aqueles que estão sempre por ali. “Sexta e sábado a nossa galera também vem aqui e se reúne à noite na pista. Ficamos bebendo e andando de skate, às vezes até de madrugada”. Ele completa contando que os skatistas preferem os dias de semana para utilizar a pista, porque aos domingos ela fica muito cheia – inclusive com crianças -, impedindo manobras mais radicais pela falta de espaço.

Yamamoto frisa que não é skatista profissional “Gosto do esporte como lazer, não como um amigo meu que ganha campeonatos”, enfatiza. E, como faz quase todo mundo que vai ao Gaúcho, logo Yamamoto já está circulando aqui e ali, conversando com outros grupos. A tônica, ao que parece, é esta: interagir e quanto mais, melhor.



Sorveteria

Embora o público do domingo seja notório consumidor de bebidas alcoólicas, a sorveteria não fica em segundo plano. Mesmo no frio, os sorvetes do Gaúcho são bastante procurados. “O sorvete não tem só a função de sobremesa, ele é também um ótimo digestivo e gostoso para degustar com os amigos.”, defende a fotógrafa Letícia Marcellos.

Os Sorvetes Gaúcho têm sabores originais – pelo menos o eram nas décadas passadas. Airton Serur dos Santos, um dos irmãos, orgulha-se em gerenciar a casa que inaugurou o sorvete de iogurte na cidade. Ele relembra que a criação data de 1977.

O favorito das crianças é o de chiclete, todo colorido. Mas os tradicionais, como creme, chocolate e flocos e os de fruta também têm boa saída. O de uva, um dos mais pedidos, é feito com a própria fruta amassada, trazida do Rio Grande do Sul, e depende de um estoque eficiente para durar o ano todo. O sorvete de maracujá não só tem o gostinho da fruta, como pedacinhos também.

Os senhores que têm o costume de realçar o sabor do café com um tabletezinho de chocolate mentolado, podem saborear o sorvete de menta com pedacinhos de chocolate.

Quem gosta daqueles “Sundays” de chocolate com cobertura de farofa de amendoim, encontrado no cardápio de sobremesas das grandes redes de fast-food, deve provar o sabor “Africano”, uma mistura de sorvete de chocolate com amendoim.

E, para os diabéticos ou para quem está de dieta, o irmão divulga: “também temos opções sem açúcar, nos sabores creme e coco”.


Fim de tarde de domingo no Gaúcho. Fotos: Letícia Marcellos


segunda-feira, 25 de abril de 2011

De olho no palco

Daniella Féder


Fãs no show da banda Hevo 84. Foto: Camila Gama


Aparentavam ser todas amigas. Talvez amigas de infância. Pertenciam à mesma faixa etária (12 a 16 anos), vestiam-se de maneira semelhante - quiçá correspondente a alguma tribo urbana -, e estavam ali com um objetivo comum: assistir ao show da banda paulistana December.

A banda, que tem pouco mais de um ano de existência, talvez fosse jovem demais para pensar em estrelismos: encontrava-se reunida ao lado da casa onde logo se apresentaria, facilitando a comunicação com os fãs – para a histeria das meninas. As horas precedentes ao show foram recheadas de fotografias, autógrafos, declarações tímidas, conversas emocionadas e outras “tietagens”.

“Não acredito que os conheci pessoalmente”, exclamava Ana, de 16 anos, indicando os músicos com olhos incrédulos e apertando com força a mão desta repórter.

Era este o cenário do entorno do Hangar Bar, no Largo da Ordem, naquela tarde de domingo. Acontecia, no centro histórico, uma festividade carnavalesca precedente ao carnaval. Um trio elétrico enérgico e animado trafegava pelos calçadões de paralelepípedos e estacionava periodicamente para recuperar o fôlego.

A festa é tradicional na cidade, e as redondezas abrigavam uma multidão generosa de pessoas. Era dia de folia gratuita e a céu aberto em Curitiba. Porém, para os fãs, somente o show assumia cargo de ocorrência respeitável e até mesmo relevante. Nada mais tinha importância.


A December aglomerava, aos poucos, uma quantidade nada humilde de fãs. Na medida em que eles chegavam, agrupavam-se em rodas de conversa. Juntos, contemplavam a banda, tiravam fotografias uns dos outros e uns com os outros, abraçavam-se e até presenteavam-se como podiam – com uma pulseira colorida, um recadinho carinhoso redigido rapidamente numa folha de papel ou uma “tatuagem” escrita na pele à caneta. Pareciam, sim, serem todos amigos. Amigos de muito tempo. Entretanto, acabavam de se conhecer.

Outros conjuntos se apresentavam, em sequencia, no Hangar Bar. Mas este público, especificamente, permanecia em confraternização do lado de fora da casa.

A psicóloga Carine Eleutério esclarece que a adolescência é a fase na qual mais ocorre a formação de grupos de amigos. O critério de seleção é pueril: identificação. “O objeto de desejo desses grupos costuma ser, entre outros, o ídolo. E assim eles se tornam fãs”, comenta Carine.

Já dentro do bar, as amizades pareciam consolidadas. Quem analisasse com um olhar leigo, não saberia dizer o quão efêmera eram no momento. Os fãs, que haviam acabado de compartilhar a atenção da banda, agora trocavam histórias e conheciam-se melhor. Ana tinha feito novos amigos, que possivelmente durariam até o término do esperado espetáculo, que não tardaria a começar.



Assédio

O roqueiro Eliton Przybysz (pronuncia-se “Pchêbs”) é guitarrista da banda Rock’n Roses, que faz cover da histórica Guns’n Roses. Ele sonha em ser um astro do rock. Embora ainda não tenha ascendido às escadarias da almejada fama, já sente o gostinho do assédio das fãs – e adora.

Há três anos, quando Przybysz, que atende pelo nome artístico “Trix”, deixava o palco após um show com sua banda em Paranaguá, foi surpreendido por uma garota que corria em sua direção e pulou nele para beijá-lo, derrubando-o no chão. Sem dizer nada, a moça o levou a um dos banheiros do local onde, após alguns minutos de “amasso”, disse que o irmão a esperava do lado de fora do salão e “mataria” o guitarrista se flagrasse a situação. “Ela me contou que estava indo morar em outro país e que, como tinha me achado ‘gatinho’, se deu ao direito de ser impulsiva. E foi embora”.

Trix com sua guitarra carinhosamente batizada de Natasha, em homenagem à vodca. “No dia em que comprei a guitarra, bebi um litro da vodca Natasha pra comemorar”. Foto: Tay Pilati


O mesmo aconteceu com o DJ Fabio Nascimento - nas festas conhecido como Fabio Ene. Há cerca de seis anos, quando comandava as picapes na antiga casa noturna Moohai, foi derrubado por uma garota que se dizia apaixonada por ele. “A Monica pulou em mim dizendo que me desejava. Nós nos conhecemos melhor e até namoramos por um tempo”.

Nascimento atua como DJ há 16 anos, e expõe que não se acostuma com o assédio das fãs. “É sempre inesperado, elas me pegam de surpresa e tenho que saber fugir da situação”. Ele conta que esse tipo de coisa acontece bem frequentemente, e não gosta. “É desagradável. Sobretudo para mim, que sou casado”.

A surpresa diante do assédio é também recorrente para o baterista da December, Gustavo Paes. “As meninas vêm conversar comigo e querem me abraçar, tirar fotos, pedir autógrafos. Eu sou tímido, e às vezes fico um pouco assustado”.



Denominações

O Dicionário Michaelis descreve o fã como uma pessoa que tem muita admiração por alguém. Mas há pessoas que são mais que apenas fãs: as tietes e as groupies. Ainda que o Michaelis defenda as tietes também como simples admiradoras, elas são vistas como fãs que demonstram um comportamento exagerado.

As groupies, segundo a mesma fonte, são “fãs ou tietes de conjunto de rock que seguem o grupo em suas excursões”. Porém, há músicos que pensam diferentemente. Na concepção de Eliton Przybysz, elas têm a clara intenção de se relacionar com os integrantes da banda. “Muitas vezes elas só buscam envolvimento sexual. Mas existem também groupies que querem fazer amizade, para serem vistas como amigas dos caras da banda”, esclarece o guitarrista.

O longa-metragem “Quase Famosos”, dirigido por Cameron Crowe (o mesmo diretor de Vanilla Sky), retrata o rock setentista contando a história de uma banda que é seguida por um grupo de groupies em uma turnê. São garotas que já fizeram amizade com os integrantes e relacionam-se com eles. A principal delas, Penny Lane – que deixa a entender que mantém relações sexuais com todos os integrantes – tem preferência pelo guitarrista, pelo qual é apaixonada. Todas elas são grandes fãs do grupo e dizem-se as maiores.



O show

December adentrou o palco da casa do Largo da Ordem e cada integrante se pôs em seu lugar. Com algumas batidas de baquetas, Paes anunciou o início da primeira canção. Ligeiramente a pista, que não estava cheia nos shows anteriores, compôs uma paisagem de empurra-empurra; de jogo cujo objetivo era manter a maior proximidade possível com o palco.

Ana, que no início da apresentação ocupava um lugar vantajoso no mezanino, com espaço de sobra e bancos para sentar, logo preferiu se aventurar na pista, onde o metro quadrado estava bastante concorrido. Arrastou algumas novas amigas consigo e sumiu na multidão.

No palco, o vocalista Leonardo Leal, nomeado Coloral e assim conhecido pelas fãs, tietes e groupies, tinha as pernas assiduamente alisadas pelas mãos de meia-dúzia de meninas. As garotas que não ocupavam posições tão privilegiadas gritavam pelos seus integrantes favoritos, levantando as mãos como que para serem vistas do palco. Muitas cantarolavam as músicas, acompanhando as letras.

Após o término da apresentação, os integrantes dirigiram-se ao camarim. Era hora de guardar os instrumentos, receber o cachê e esperar a van que os levaria de volta a São Paulo. Mas, para os fãs, era o última oportunidade de tietagem. Amontoaram-se na porta, na esperança de conseguir entrar. Estavam encarregados de bloquear a passagem um segurança do bar e o produtor da banda, Augusto Guimarães.

“O baterista prometeu que daria duas de suas baquetas para mim e para a minha amiga. Ela é do fã-clube da December!” - justificava Marcela Karoline, de 15 anos.

“Eu só quero um autógrafo” - implorava uma tiete ao segurança.

“Daqui a pouquinho eles saem”, respondia, simpaticamente, Guimarães.

“Quero entrar só para tirar uma foto, juro que não vou incomodar” - uma garota dizia.

“Eles estão trocando de roupa agora, você terá que esperar” – simpatizou novamente.

“Preciso falar com eles uma última vez, antes que meu pai chegue para me buscar” – suplicava outra menina.

-É sempre assim após os shows?
-Você não viu nada... Aqui tem pouca gente – suspirou o produtor, grudado à porta.

Não demorou muito para a banda sair do camarim e dar atenção ao público novamente. O sufoco da entrada do recinto era menor, pois alguns fãs tinham ido embora. Parecia que Guimarães respirava com mais calma.

Grande parte do público que conseguiu o que queria, retirou-se do local. Porém, outra pequena parte fez companhia à banda até que a van chegasse para levá-la embora. Quando eles partiam, não houve choradeira ou despedidas emocionadas. O espetáculo tinha chegado ao fim.



Estilo

O fã Guilherme Henrique Carvalho titula o gênero musical da banda December de “post hardcore”. Paes corrige: “Nos baseamos em bandas de post hardcore, mas nosso estilo é um pouco diferente. Ainda não conheci uma banda que siga uma linha parecida com a nossa”.

Na definição da fotógrafa e produtora de bandas Camila Gama, post hardcore é uma mistura de hardcore melódico com heavy metal. “São músicas bem trabalhadas e cheias de efeitos sonoros, com letras pessoais que costumam ser românticas ou de protesto. O vocal pesado, berrado, mistura-se com a voz melódica”.




Sem limites

Carol* nunca teve a intenção de ser groupie, mas foi o que aconteceu. “Nunca foi uma coisa pensada. Eu só tinha aquela vontade de estar perto das bandas”. Aos quinze anos, foi seduzida pelo mundo dos conjuntos de rock e pela maneira como se divertiam. “Comecei a me envolver com um roqueiro, depois outro e mais outro... Quando percebi, só estava saindo com integrantes de bandas”. Para ela, os músicos eram mais interessantes que os outros rapazes: eram mais liberais e, por onde passavam, tinham o dom de se tornar o centro das atenções.

Ela se tornou conhecida entre eles. Afinal, era figurinha carimbada nos shows. Já não pagava para entrar, embriagava-se sem gastar nada, acompanhava os ensaios, as bebedeiras e as festas particulares. Estas, regadas a muita droga e sempre enfeitadas por mulheres bonitas, provavelmente escolhidas a dedo pelos anfitriões. No universo do rock, o clima da diversão era temperamental: não havia pudor e reinava a regra do “ninguém é de ninguém”.

Ilustração: Rafaela Okada


A melhor amiga nunca a deixava sozinha. Era uma parceira fiel e que compartilhava dos mesmos interesses. As duas se entretiam juntas e não faziam questão de princípios. “Normalmente nós dividíamos a banda e cada uma ficava com dois dos integrantes. Muitas vezes ficávamos com o mesmo cara, mas nunca ao mesmo tempo. Era muito divertido”.

Mas nem tudo eram flores. Carol participou de um concurso para ser capa de CD de uma banda que não conhecia muito bem. A regra era enviar um ensaio de fotos sensuais para o e-mail do grupo. Ela tirou algumas fotos amadoras em casa e oficializou sua participação. Um dos integrantes gostou tanto das fotografias da garota que reproduziu duas delas em forma de tatuagem em seu corpo. Carol ficou encantada e foi até a cidade do rapaz para conhecê-lo.

Mas ele seguia uma religião agressiva: era, segundo dizia, adorador do diabo. A menina chegou até a acompanhar alguns rituais que, conforme o músico, eram característicos da linha que seguia do anticristianismo. Ah, mas ela não levava a sério. Para provar que a religião era séria e exibir-se para a moça, ele cometia atos violentos. Carol narra um deles: “Certa vez, em um show que assistíamos juntos, um homem me paquerou e teve a orelha arrancada por ele. Morri de medo e não voltei mais a vê-lo”.

Hoje, aos vinte anos, ela não tem vergonha de dizer que os dois anos que passou sendo groupie foram a melhor época de sua vida. Mas confessa que, embora nunca tenha acordado arrependida, só se sujeitou a toda essa aventura porque era muito nova. “Ainda não tinha muita consciência das coisas, e acho que era por isso que gostava tanto”.

*Carol é um nome fictício. A personagem preferiu não se identificar.

sábado, 19 de março de 2011

Seu cãozinho pode salvar a vida do Duque

Daniella Bittencourt Féder


Edição (20 de março de 2011):

Eu, meus primos e minha tia queremos agradecer a todos que tentaram ajudar o Duque, e principalmente à ANDA, que noticiou o caso a meu pedido. Com a ajuda de vocês e à repercussão que o caso alcançou na internet, Duque teve um doador de sangue ontem mesmo.

Ficamos muito felizes com a quantidade de pessoas que se mobilizaram, e é importante que saibam que todos nós, incluindo o Duque, somos gratos de coração.

Mas infelizmente venho com uma notícia triste. Duque não resistiu ao procedimento e faleceu nesta madrugada. Ele estava muito fraquinho, e é possível que fosse sofrer caso tivesse a vida prolongada.

A Clinivet se encarregou da cremação do corpo.

Duque foi um bom cãozinho. Tinha disposição e carisma. Adorava um carinho da família, e fazia festa quando algum de seus donos chegava em casa. Eu o conheci pouco, mas sei que viveu alegremente.

Há alguns anos, quando ele ainda morava com seus donos num apartamento, quem visitasse a família perceberia como ele era ciumento. Eu costumava visitá-los para brincar com a Marcella. Duque ficava carrancudo quando via que não era mais o centro das atenções. Parecia que ele queria protegê-la de qualquer presença incomum. Ele latia para mim como quem dizia "Ei, estou de olho em você!".

Lembro-me de que, nas crises de ciúmes, Duque ficava trancado no seu quarto (a sacada, toda preparada para ser o canto de repouso do cãozinho) e a porta, de vidro, às vezes tinha que ser coberta para que ele não visse Marcella me dando atenção e parasse de latir. Ela cobria a porta com um colchão.

Mas logo Duque relaxava e dava sinais de que já podia sair do "castigo". O colchão era retirado, a porta de seu quarto era aberta e ele saía para fazer gracinhas e receber muito carinho. Trazia na boca, vez ou outra, um presente para Marcella - um brinquedinho que deveria estar todo babado.

Há pouco tempo, a família mudou-se para uma casa dotada de muito mais espaço que o antigo apartamento. E, o mais divertido: um quintal para Duque correr até gastar suas energias.

Isabella, no final de 2009, viajou para os Estados Unidos. Ficou lá por alguns meses. Quando voltou, no início de 2010, a família toda se reuniu numa churrascaria próxima ao aeroporto para recebê-la. Ao voltar para casa, haveria mais uma surpresa: a casa tinha sido decorada com bexigas e cartazes de boas-vindas.

A família deu um jeito de chegar na casa antes dela e cada um se pôs à sua posição para gritar "Surpresa!" quando ela entrasse pela porta. Porém, Isa deixou todos esperando. Assim que chegou em casa, Duque veio correndo em sua direção, cheio de saudades. Os dois se abraçavam no quintal enquanto nós, de dentro da casa, esperávamos, imóveis, que ela entrasse pela porta.

Duque vai deixar saudades.









Post original (19 de março de 2011)

Olá, cãezinhos.

Meus primos – Henrique Bittencourt, 16, Marcella Bittencourt, 17 e Isabella Bittencourt, 24 - têm um lhasa apso de onze anos, cor bege claro. Ele é o típico melhor amigo da família: alegre, brincalhão e muito apegado aos donos – e, por isso, bastante ciumento.

Na semana passada, quando Duque corria pela casa com uma meia na boca, engoliu-a sem que ninguém visse. Rapidamente foi levado à clínica veterinária, onde fez uma cirurgia de retirada do objeto. O procedimento foi tranquilo e ele logo voltou para casa.

Porém, durante o pós-operatório, o bichinho contraiu uma infecção generalizada. A recuperação está sendo difícil, e agora ele enfrenta uma forte anemia.

Duque necessita de doação de sangue urgente. Segundo a veterinária, o sangue doado deve ser de um cachorro de grande porte. Ela conta que, assim como os humanos, os cachorros têm tipos sanguíneos, mas como o caso de Duque é muito grave, a única restrição é a de que o doador seja saudável.

O cachorro doador só será sedado se for bravo ou estiver agitado. Após a doação, a clínica vai oferecer uma refeição para o herói, que voltará para casa com o dono.


A doação deve ser feita na Clinivet - Rua Holanda, 908 – Boa Vista – Curitiba/Pr. www.clinivet.com.br


É urgente.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um bancário

Conto enviado por Rafael Chagas


A maravilha do mundo era meu emprego. E olhe que eu trabalhava todo empertigado. Adorava ficar o dia todo com a mão na merda. Uma merda perfumada como rosas de jardim. Passava o dia todo contando e distribuindo dinheiro. Sentia-me o mais sortudo dos homens. Trabalhar em banco é uma merda. Ser caixa de banco fede.

Não há mais nada sujo que dinheiro. Ele passa na mão de todo esse povo porco que anda por aí. Mas tudo bem, alguém tem que por a mão na bosta, não é verdade? E eu colocava com uma felicidade tão contagiante... Sorriso não existia. Qual é o caixa de banco que sorri? Somos praticamente uns robôs programados.

Todo dia era mesma rotina: aquele pão com margarina, o leitinho quente com café e a cagadinha básica. Bendito café que me levava à latrina logo cedo. Pensando bem, era bom... Saía leve de casa. Ia trabalhar levinho e contente. Almoçava numa salinha minúscula e cheia de mulheres lindas - lindas por fora é claro! Por dentro, umas vadiazinhas quaisquer. Todas separadas e com filhos criados pelas avós.

Eu era relativamente alto, com cabelo raspado - porque se crescesse enrolava e deixava-me com aspecto de mendigo. E em bancos não se trabalham mendigos... ou trabalham? Tinha um corpo atlético. Sou um rapaz boa pinta. Contava meus 33 anos e só tinha um defeito: a caiporice. Um azarado! Principalmente com as mulheres. Traçá-las era cotidiano. Bastava sair o meu presente mensal (aquele salário gordo, gordo como o gerente do banco), que dava pra pagar algumas meretrizes, a prestação de carro, o aluguel de apartamento e remédios para a senhora Minha Mãe. Uma velha senhora fodida e lascada na vida. Todo mundo é fodido hoje em dia. Imposto é o que não falta, então basta viver e deixar-se ser fodido pelo seu país- algo pra deleite diário.

Lá no fundo da alma eu gostava do banco (os psicólogos que expliquem esta contradição!). Era todo limpinho e tinha mulheres de decotes todos os dias. Minhas colegas de trabalho eram bem apessoadas e tudo mais. Vai ver eu era revoltado, revoltado com a vida! Uma mulher contribuiu pra isso. Eu, tolo, imbecil, deixei ela destruir minha paz, sujar-me o nome, deixar-me dívidas e feridas para o resto da minha vida. E não foram escaras na pele; foram feridas de verdade, num coração vagabundo de um otário qualquer, que não enxerga coisa alguma. Um fodido e largado na vida, que não acreditava em volta por cima. Eu sempre ruminava a carniça. Roeram o osso e deixaram a carne em putrefação.