Daniella Féder
Vizinha do Cemitério Municipal, a Praça do Gaúcho reúne amigos aos domingos, em mesas de bar.
Os domingos na Praça do Gaúcho, em Curitiba, não são nada monótonos. O local é agitado ponto de encontro de diferentes grupos de jovens, que interagem entre si. Grande parte deles, ótimos bebedores. De carteirinha.
O domingo em que foi feita esta reportagem era o primeiro dia de inverno do ano, 21 de junho. Contrariando o calendário das estações (como é de praxe em Curitiba), era uma tarde bonita e ensolarada. Mesmo que ainda tímido, o frio estava lá, mas era fácil de ser contornado com um agasalho e uma calça comprida – ou algumas doses alcoólicas.
A Praça do Gaúcho estava cheia. Quem fosse até lá de carro encontraria dificuldades para estacionar, pois as ruas do entorno não davam conta de oferecer vagas a todos os visitantes. Alguns motoristas pararam os veículos nas esquinas ou muito próximos às guias rebaixadas, contrariando as leis do Código de Trânsito Brasileiro. Certamente foi um dia bastante lucrativo para o único estacionamento próximo.
Se o carro não é o veículo escolhido, há outra opção para se chegar lá: utilizar o sistema de transporte público. A região é favorável. O bairro São Francisco, vizinho do Centro Cívico e do Centro Histórico da cidade – todas regiões animadas, sobretudo no que diz respeito à vida noturna -, a Praça é caminho de muitas linhas de ônibus que passam por lá e partem para os demais bairros da cidade. Só ela contém três pontos de parada, fora os que desembarcam no Cemitério Municipal, bem em frente, ou em outros nada distantes dali.
O ápice do movimento, aos domingos, acontece por volta das 16 horas.
A sinuosa e desnivelada pista de skate, centro da praça e das atenções, é favorável tanto à prática do skate quanto às de patins, rollers, bicicletas e outros equipamentos sobre rodas. Mas a prancha é a favorita.
Por cima das curvas todas grafitada em tons vibrantes - assim como alguns muros da região - pessoas de todas as idades exibem suas habilidades, inclusive crianças muito talentosas nas manobras giratórias.
O skate é para todas as idades.
Ao lado de uma das escadas de acesso à pista há uma placa com os exatos dizeres: “Nova pista de skate da Praça do Redentor. O cimento original, de 1974, foi trocado por granitina, conforme sugestão dos esportistas da primeira praça pública de skate da cidade e a segunda do Brasil. De tão forte a presença dos praticantes, a Praça do Redentor é mais conhecida pelo nome popular: Praça do Skate. Ou, para os mais antigos, Praça do Gaúcho dos Sorvetes”.
Praça do Redentor é o nome formal, e quase desconhecido. Embora a placa seja relativamente recente, datada com o ano 2004, os apelidos comuns são Praça do Gaúcho ou somente Gaúcho. Ambos se popularizaram devido à tradicional sorveteria Sorvetes Gaúcho, que existe ali desde meados da década de 50 (mais precisamente, 1955). Os atuais proprietários, três filhos do casal que fundou o estabelecimento, relevam que a sorveteria está lá desde muito antes da pista de skate ser construída.
A pista já teve diversos grafismos, de pichações amadoras a grafittis elaborados. A estética atual é bem colorida.
A quantidade de bancos existentes na praça não dá conta da demanda: são apenas dois. Quando há muita gente, como naquele dia, o calçadão de paralelepípedo fica tomado pelas mesas e cadeiras dos bares dali. A solução para quem chega tarde é ficar circulando com a bebida nas mãos ou se sentar nas beiradas da pista de skate. Ficar sem lugar para sentar não arrefece o ânimo de ninguém. Afinal, o que os frequentadores buscam é o encontro com a galera, as conversas descontraídas, a paquera e passar o tempo distraidamente e bebendo.
Durante o verão, a cerveja é a favorita. Mas com a chegada do inverno, alguns dos copos vão pouco a pouco deixando a cor amarela da loira gelada de lado para, gradualmente, dar lugar aos destilados, vinhos baratos e quentões, tudo que possa oferecer algum calor. Alguns chegam a trazer suas próprias bebidas, como algumas misturas mais “turbinadas”, como os “tubões”, uma mescla de vodka, rum ou cachaça com qualquer refrigerante. A maioria, porém, compra por ali mesmo, em um dos bares da redondeza. Quanto mais álcool é consumido, mais alegre e descontraído fica o ambiente.
Uma banca de revistas que havia ali hoje leva o nome de Bar da Banca. O motivo: muita gente só entrava ali para comprar bebidas, até que a função mudou de banca de revistas para bar.
O estudante de arquitetura Guilherme Yamamoto, 22, mora com a mãe num apartamento que fica a duas quadras da praça. Ele é frequentador assíduo e amigo de boa parte do pessoal que está sempre por ali. “Curitiba não tem praia, mas tem Gaúcho”, brinca Yamamoto.
Para ir à praça, ele não precisa marcar hora com ninguém. Sempre encontra conhecidos por lá. “Alguns são amigos que fiz anos atrás, e ainda andam de skate comigo” conta o futuro arquiteto, sentado a uma mesa com algumas garotas, estudantes de Direito.
Chega a noite e o movimento começa a cair, mas há sempre os retardatários, aqueles que gostam de ficar até o finalzinho da festa. Um dos rapazes recostados na mureta da pista comenta: “aos domingos a gente só vem aqui pelo agito. São os dias mais cheios, porque vem o pessoal de fora”, ou seja, não são aqueles que estão sempre por ali. “Sexta e sábado a nossa galera também vem aqui e se reúne à noite na pista. Ficamos bebendo e andando de skate, às vezes até de madrugada”. Ele completa contando que os skatistas preferem os dias de semana para utilizar a pista, porque aos domingos ela fica muito cheia – inclusive com crianças -, impedindo manobras mais radicais pela falta de espaço.
Yamamoto frisa que não é skatista profissional “Gosto do esporte como lazer, não como um amigo meu que ganha campeonatos”, enfatiza. E, como faz quase todo mundo que vai ao Gaúcho, logo Yamamoto já está circulando aqui e ali, conversando com outros grupos. A tônica, ao que parece, é esta: interagir e quanto mais, melhor.
Embora o público do domingo seja notório consumidor de bebidas alcoólicas, a sorveteria não fica em segundo plano. Mesmo no frio, os sorvetes do Gaúcho são bastante procurados. “O sorvete não tem só a função de sobremesa, ele é também um ótimo digestivo e gostoso para degustar com os amigos.”, defende a fotógrafa Letícia Marcellos.
Os Sorvetes Gaúcho têm sabores originais – pelo menos o eram nas décadas passadas. Airton Serur dos Santos, um dos irmãos, orgulha-se em gerenciar a casa que inaugurou o sorvete de iogurte na cidade. Ele relembra que a criação data de 1977.
O favorito das crianças é o de chiclete, todo colorido. Mas os tradicionais, como creme, chocolate e flocos e os de fruta também têm boa saída. O de uva, um dos mais pedidos, é feito com a própria fruta amassada, trazida do Rio Grande do Sul, e depende de um estoque eficiente para durar o ano todo. O sorvete de maracujá não só tem o gostinho da fruta, como pedacinhos também.
Os senhores que têm o costume de realçar o sabor do café com um tabletezinho de chocolate mentolado, podem saborear o sorvete de menta com pedacinhos de chocolate.
Quem gosta daqueles “Sundays” de chocolate com cobertura de farofa de amendoim, encontrado no cardápio de sobremesas das grandes redes de fast-food, deve provar o sabor “Africano”, uma mistura de sorvete de chocolate com amendoim.
E, para os diabéticos ou para quem está de dieta, o irmão divulga: “também temos opções sem açúcar, nos sabores creme e coco”.
Um comentário:
E viva os domingos na praça do Gaúcho! (:
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