quinta-feira, 30 de outubro de 2008

To be or not to be

A impulsividade deveria ser inerente a todo ser humano.

É. Eu estou cercada de pessoas reprimidas - como minha mãe, por exemplo - e percebo como elas são tristes e, muitas vezes, sozinhas. É óbvio que as origens dessa consternação, na grande maioria dos casos, são inúmeras, mas acredito que a impulsividade é uma maneira de lutar contra a mesmice melancólica da rotina que afeta todos nós.
Porque as pessoas mais apaixonantes são sempre aquelas imprevisíveis, surpreendentes, com aquela espécie de determinação ou força de vontade que é tão incontrolavelmente presente que se transforma num brilho constante no olhar. E é isso, meus caros, que realmente não tem preço.

Então houve este belo dia, mais conhecido como anteontem, no qual eu acordei e decidi que era uma boa hora pra abrir um pouquinho mais minhas asinhas de recém-18-anos e arriscar um vôo mais alto.
Era um plano de longa data, esse de fazer uma tatuagem. No meu aniversário, guardei boa parte do dinheiro que ganhei pensando nele. Mas não era nada certo. Nem data, nem hora, nem mesmo em que lugar do corpo ou até o quê eu faria. Tudo muito fora do meu próprio padrão de significados absurdos e profundos por trás de datas e horas, pensamentos e fatos. Quando me dei conta (ou nem tanto), dizia para o tatuador: "Sim, pode ser pra amanhã às 10:30".
And so it was. Lá estava eu, de costas para ele que colocava e limpava várias vezes o stencil da minha frase. "respons'amici, se dedit flamini" era ela, que juntava uma tradução do inglês para o latim do refrão de Blowing in the Wind, (que é, no original: "The answer, friends, is blowing in the wind"), do Bob Dylan, com minha paixão pelas duas línguas (por todas elas, na verdade) e por ambigüidades.
Mas isso tudo tinha também um quê de revolta e daquele desejo, típico adolescente, de liberdade e independência; aquele grito seco que machuca a garganta mas ecoa só dentro de você. Eu estava ali, escondida do mundo, fazendo algo que meus pais, extremamente conservadores, jamais aprovarão, além de uma lista de outras situações adversas pelas quais estou passando que facilmente impediriam qualquer outra criatura em sã consciência de tal atitude. Não, não. Era coisa certa, e era assim que eu me senti e sinto. Finalmente, deitei naquela maca de couro preto com a maior certeza do mundo, acompanhada por três das pessoas que levam consigo uma grande parte do meu ser (que representaram muitas outras, infelizmente ausentes naquele momento). A dor, as reações, as feições preocupadas e surpresas eram somente conseqüência daquela atitude e do que eu mesma sou: impulsiva.

Pra quem quiser escutar:



5 comentários:

Daniella Féder disse...

AI, como deve ter doído!

Marcela Mastroiany disse...

Adoro tattos, tenho 5 mas a última fiz há uns 4 ou 5 anos, não pretendo fazer mais... já estou satisfeita. Tenho uma com uma frase tb! não é bem frase, é "felicitas et pax", felicidade e paz em latim.

Daniella Féder disse...

A Tatoo da Ana também é uma frase em latim!

Anônimo disse...

Latim é lindo! (;

V. disse...

Espontaneidade, impulsividade e instintividade são naturezas do ser humano que nunca deveriam ser esquecidas ou reprimidas. As pessoas deixam-se levar por conceitos morais ou éticos completamente estúpidos, o que as impedem de agir, por medo de um julgamento sem sentido ou de uma reação negativa de alguém querido.
Não se trata de fazer tatuagens, não se trata de desobedecer os pais ou de qualquer outra temática proposta no texto. Trata-se simplesmente de realizar um feito porque algo que dentro de você diz que está certo ou que vai fazer um bem a você mesmo.