sábado, 4 de setembro de 2010

Barbeador elétrico é pura falta de personalidade

Por Daniella Bittencourt Féder


Ele é barbeiro desde cedo, tem a profissão como prioridade, e não hesita em mostrar aos clientes que, no que depender dele, a atividade é tradicional e única o suficiente para não acabar.


Ela passa quase despercebida pela movimentada Rua Presidente Carlos Cavalcanti, no bairro São Francisco. Não fosse a placa - luminosa, à noite -, que já se denuncia bem vivida, Curitiba esconderia bem a tradicional e popular Barbearia Oásis. Um cubículo quarentão (com 46 anos de idade, para curiosidade da precisão) que é ponto de encontro de barbudos e cabeludos, carecas que querem bem tratar os poucos fios de cabelo que lhes restam, amantes do futebol e homens de todo o tipo. São muitos os clientes de Silvino Tafner, dono e único barbeiro do pequeno estabelecimento. Porém, com a memória apurada, ele faz questão de conhecer todos. Mesmo eu, a moça que sou, tenho o prazer de ser recebida com muito carisma e simpatia quando acompanho o avô, pai, irmão ou namorado – que vem da cidade de São Paulo somente para se render à arte quase esquecida das mãos do barbeiro. Ele fala baixinho, e diz que é tímido. Mas tem a freguesia com muita amizade.

Seu Silvino, como é conhecido, é neto de italianos, e explica que Tafner é sobrenome de origem germânica. Uma confusão da colonização: parece que os alemães eram maioria populacional em certa região da Itália. Ele nasceu em Santa Catarina, onde trabalhou seus dois primeiros anos na arte, quando ainda não era quase esquecida. “Sou barbeiro há 48 anos; 46 em Curitiba e 16 neste endereço. Sou barbeiro [frisa, orgulhoso], não sou como os cabeleireiros destes salões de hoje”. A profissão é mesmo uma paixão, trabalhada com muita seriedade, técnica e perfeccionismo pelas mãos dele, que abrem as portas da Barbearia Oásis de segunda a segunda. Brinca: “fico aqui até de madrugada, se for preciso”. Ora essa, o trabalho é absolutamente necessário. Quem mais pagaria as contas e a faculdade do filho? Quando questionado sobre a situação financeira, ele novamente descontrai: diz que já é rico, e apenas falta tempo para gastar todo o dinheiro. Ah, aos domingos, meu personagem fecha o negócio cedo. Gosta de passar o dia na praia, num pesque-pague... E o futebol é sagrado.

Vez ou outra, entre este corte e aquele, algum cliente faz o serviço delivery. Se você por acaso estiver indo àquele restaurante, anote o pedido: “Por favor, peça à cozinheira para que me prepare um frango assado. Ela sabe como eu gosto”. Mesmo no sábado, quando a barbearia recebe mais barbas e cabelos do que comporta, o local vira ponto de encontro. Tem gente que faz uma visita somente para bater um papo ou discutir sobre algum assunto do jornal de hoje, enquanto o lê ali mesmo – como anda violenta essa cidade! Assim que começa a anoitecer, meu barbeiro fecha as portas de vidro. Mas é somente por segurança; o trabalho não para antes das nove. Religiosamente.

As cadeiras são duas relíquias, antigas e muito preservadas. São de quando ferro maciço era moldado e desenhado à mão – elas ilustram essa época. Foram garimpadas em São Paulo e trazidas com muito cuidado para cá. Alguma delas deve estar fazendo 100 anos agora, em 2010. Acho que a da direita, a do fundinho, é a mais confortável para trabalhar. Guardo a sensação de que a outra não é a preferida, mas é só uma impressão.


Ora essa, o trabalho é absolutamente necessário.

Um comentário:

Unknown disse...

eu vou lá!!!